São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2011

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Empresário relatou a Kassab cobrança de propina em feira

Polícia Federal abrirá inquérito para investigar políticos suspeitos de corrupção

Segundo a assessoria de imprensa do prefeito de São Paulo, ele recebeu a correspondência, mas não leu seu teor


DANIELA LIMA
VERA MAGALHÃES

DE SÃO PAULO

O prefeito Gilberto Kassab foi informado em março deste ano da existência de um esquema de cobrança de propina de políticos sobre a administração da Feira da Madrugada, que reúne 4.500 feirantes na região central da capital de São Paulo.
Kassab recebeu uma carta do empresário Geraldo de Souza Amorim, que comandou o espaço por cinco anos. Ele relatou ser alvo de chantagem, ameaça e cobrança de propina e citou políticos do PR como o deputado Valdemar Costa Neto.
Ontem, o Ministério Público Federal determinou à Polícia Federal a abertura de um inquérito para apurar "com urgência" a suspeita de crime de corrupção no caso.
A Procuradoria foi acionada pelo deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP).
Na correspondência enviada a Kassab, o empresário diz que, com o sucesso da feira, "cresceu o interesse de políticos, tais como: Waldemar da Costa Neto [sic], Milton Montes [sic] e até o hoje senhor ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento" -este deixou o cargo após acusações de corrupção.
Todos os citados são filiados ao PR, sigla presidida por Nascimento, e comandada em São Paulo por Valdemar.
"Fui durante muito tempo perseguido, ameaçado de morte, inclusive minha família", diz trecho da carta. A assessoria de Kassab confirma que ele recebeu a correspondência, mas diz que ela não foi lida.
Na edição de ontem, a Folha revelou que o vereador Agnaldo Timóteo (PR-SP), em troca de correspondência com o ex-administrador da feira, citou a cobrança de propina por parte de "oportunistas" de sua sigla.
"Você se lembra, Geraldo, que os oportunistas do meu partido te exigiram R$ 300.000,00 mensais? E eu pergunto: te pedi alguma coisa para levá-lo ao nosso ministro? Pedi alguma coisa para levá-lo à mesa do prefeito Kassab?", diz a carta, registrada em cartório.
A carta do empresário a Kassab foi enviada com cópia para os secretários Ronaldo Camargo (Coordenação das Subprefeituras) e Marcos Cintra (Desenvolvimento Econômico e Trabalho).
As pastas comandadas por eles fazem hoje a gestão do espaço em que funciona a Feira da Madrugada.
Além de políticos do PR, o empresário diz que foi "perseguido" pelo vereador Adilson Amadeu (PTB). "[Amadeu] tentou de todas as formas me chantagear", disse.
Amadeu preside uma subcomissão da Câmara Municipal que investiga as atividades da Feira da Madrugada. Na carta, o empresário insinua que o empenho do petebista em apurar o assunto seria uma retaliação pelo não pagamento de propina.

APARTAMENTO
A Folha também teve acesso a uma segunda carta, esta enviada pelo empresário ao vereador Agnaldo Timóteo, que motivou o texto no qual o político menciona a cobrança de propina.
Nela, Amorim diz escrever para "externar a indignação" pela demissão da filha -que trabalhava no gabinete de Timóteo- e "relembrar" que contribuiu para que o vereador chegasse ao "sucesso".
"Lembra-se da compra de seu apartamento?", disse.
No texto, Geraldo afirma que 30% do salário que a filha recebia era repassado a um funcionário de Agnaldo Timóteo. As cartas serão encaminhadas ao Ministério Público.

Colaborou FLÁVIO FERREIRA, de São Paulo


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