São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2010

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JANIO DE FREITAS

Amor e ataque


Só coincidência ou não, entrou a fase incisiva de Serra e começaram a sua queda e a subida de Dilma

A rebeldia de José Serra contra a mais nova regra eleitoral brasileira foi esmagada, depressa e com dor. Formulada pelo publicitário e marqueteiro Duda Mendonça, na primeira eleição presidencial de Lula, em 2002, é simples e convicta: "Agressividade não ganha eleição". Verdade apenas circunstancial, como atestam o passado mais distante e Fernando Collor no pós-ditadura contra Lula mesmo, consagrou-se com a derrota do próprio José Serra para o construído Lulinha Paz e Amor.
Apesar do resultado até agora, há um mérito na rebeldia de Serra. Parte da linha de ataque, que marca uma segunda fase, vem do seu temperamento sempre contundente e irritadiço, com o efeito positivo de mostrar o candidato mais tal qual é, de fato, do que fabricado por técnicas publicitárias.
Mas o impulso de Serra para ceder à sua tendência não foi solitário. À sua volta no PSDB (o aliado DEM ele jamais ouviu nem olhou), muitos cobravam-lhe palavras e atitudes diretas e firmes de oposicionista. Fernando Henrique não deixou de fazê-lo até em público, várias vezes.
Em favor do marqueteiro de Serra, Luz Gonzalez, ficam indícios de que não compartilhou da elevação de tom e teor das manifestações do candidato. A Folha informou que no debate promovido pelo jornal e o UOL, por exemplo, Serra recebeu de Gonzalez o pedido para que atenuasse suas investidas contra Dilma Rousseff, àquela altura havendo já, também, algumas crispações voltadas para Marina Silva.
Curioso é que as cobranças da cúpula peessedebista evoluíram quando Serra estava na liderança, com Lula e Dilma batalhando por uma ascensão que não ganhava embalo ameaçador. Quando, portanto, Serrinha Paz e Amor, sorrisos e ares de simpatia jamais suspeitados nele, sobrepunha-se à inércia política e à falta de mensagem de Serra. Só coincidência ou não, entrou a fase incisiva e começaram a sua queda e a subida de Dilma.
Entre atento e distraído, como convém diante do programa eleitoral, o espectador vê surgir na tela o rosto de Serra debruçado sobre o de Lula, como em um comentário confidente, e a legenda "Dois líderes experientes". É propaganda de Serra ou do líder cuja experiência indica Dilma para manter a situação de tranquilidade, crescimento econômico e aumento do consumo de que o eleitorado desfruta em plena disputa eleitoral? Assim é a mistura de oposicionismo direto e firme, em relação a Dilma e ao governo, e de afagos nos 77% de eleitorado aprovador de Lula. Serrinha Amor e Ataque.
A Lula só falta ver Dilma vitoriosa no primeiro turno para a confirmação de suas antecipações e da tática audaciosa, e por certo tempo desrespeitosa, que adotou para uma sucessão bem ao seu gosto. Não seria justo deduzir daí que a situação de Dilma é obra exclusiva de Lula. Mais do que contrariar a expectativa da oposição de que suas aparições de campanha seriam desastrosas, Dilma tem se saído bem, sobretudo se considerado que sua estreia eleitoral ocorre já em disputa para a Presidência. Nos espantosos 17 pontos de vantagem que o Datafolha lhe confere, Dilma tem a sua quota de conquista. E Serra, a de contribuição.


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