São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2010

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Centros sociais viram "currais" no Rio

Segundo a Promotoria, entidades davam até remédio vencido para eleitores; pelo menos 20 já foram fechadas

Para Ministério Público, é difícil provar vínculo com políticos; de acordo com eles, a atividade não é curral eleitoral

ITALO NOGUEIRA
DO RIO

Arma de boa parte dos políticos fluminenses, centros sociais que oferecem serviços à população estão na mira do Tribunal Regional Eleitoral e do Ministério Público.
Ao menos 20 locais desses já foram fechados. Neles, fiscais do TRE-RJ encontraram medicamentos -alguns com validade vencida-, cadeira de rodas, material de campanha e dados de eleitores. Há, ao todo, 129 entidades mapeadas no Estado.
Os centros oferecem principalmente atendimento médico gratuito, mas há também alguns que oferecem cursos profissionalizantes.
Para o MP, a manutenção desses centros por parte de políticos pode configurar formação de curral eleitoral, abuso do poder econômico -o que pode impedir a diplomação de candidato eleito- e propaganda irregular, que pode gerar multa.
No início do mês, fiscais do TRE encontraram na entidade ligada ao deputado estadual Dionísio Lins (PP), na zona norte do Rio, anotações com nomes e números de títulos de eleitor, resultado das eleições de 2008 e 2006 por zona e seção eleitoral.
Tudo, segundo o tribunal, entre caixas de medicamentos e material de campanha do candidato a reeleição.
O deputado afirmou que o local da apreensão era um depósito para onde o material havia sido levado por orientação do próprio TRE. Segundo ele, a sala onde foram encontrados dados eleitorais é seu escritório político, vizinho à entidade.
Em fundação vinculada, segundo fiscais do TRE, ao deputado estadual Domingos Brazão (PMDB), foi encontrada, além de medicamentos, uma cadeira de rodas com a inscrição "fornecida gratuitamente através de convênio. SUS-RJ. ABBR-RJ".
O chefe de gabinete do candidato a reeleição, Wanderlei Viana, afirmou que Brazão é apenas colaborador da entidade, na zona oeste.
Vincular um candidato a determinado centro é um dos principais desafios do MP. Promotores buscam nos documentos dos centros nomes de familiares ou pessoas ligadas aos políticos.
Na avaliação da promotora eleitoral Andrea Amin, a vinculação entre políticos e centros sociais impede que os serviços sociais avancem em áreas mais pobres.
"Se eu sou vereador ou deputado, e tenho centro social, enquanto [o serviço público] não funcionar o meu centro tem demanda. Aí o candidato não precisa nem apresentar proposta. Basta se apresentar como salvador da região", disse Amin.
O deputado Dionísio Lins afirma que sua entidade foi fundada em 1987 e que ele foi eleito apenas em 2006. "Há gente na política que abre centro social só para ganhar voto. Mas temos que analisar caso a caso. Faço porque sou católico praticante."


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