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Mercado perde fé nas chances de Serra
Vantagem de Dilma em pesquisas faz murchar entusiasmo provocado pelo acirramento da disputa eleitoral
Investidores apostam em austeridade se tucano vencer, apesar das promessas de aumento de gastos
RICARDO BALTHAZAR
DE SÃO PAULO
Durou muito pouco o entusiasmo do mercado financeiro com a possibilidade de
uma virada no segundo turno da eleição presidencial.
O acirramento da disputa
levou muitos investidores a
refazer suas apostas na semana passada para considerar a possibilidade de uma vitória do tucano José Serra,
mas novas pesquisas fizeram
esse otimismo desaparecer.
Os sinais mais visíveis dessa inflexão apareceram no
mercado de juros futuros, em
que os investidores negociam contratos para se prevenir contra variações inesperadas nas taxas de juros.
As taxas negociadas nesse
mercado caíram por dois dias
na semana passada, logo depois da divulgação de uma
pesquisa CNT/Sensus que indicou Serra e a petista Dilma
Rousseff quase empatados.
Mas os juros voltaram a subir nesta semana. Dúvidas
sobre o comportamento da
inflação foram o principal
motivo, mas analistas também apontaram a vantagem
folgada de Dilma nas últimas
pesquisas como um fator.
Contratos com vencimento em janeiro de 2012 eram fechados com taxa de juros
equivalente a 11,44% antes
do primeiro turno da eleição.
A taxa desses contratos caiu
para 11,22% na sexta-feira e
subiu ontem para 11,34%.
CRENÇA
Esse movimento reflete a
crença dos investidores de
que Serra seria mais rigoroso
que Dilma no controle dos
gastos públicos e isso contribuiria para reduzir a taxa de
juros necessária para conter
a inflação, dizem analistas.
Serra não apresentou um
plano de governo e tem feito
promessas que podem causar estrago nas contas públicas, como a de aumentar o
valor do salário mínimo para
R$ 600 no dia da posse, mas
ninguém se assusta com isso.
"O mercado não leva em
conta as promessas", disse
Tony Volpon, um analista da
corretora Nomura Securities
em Nova York. "O histórico
de Serra aponta para uma política fiscal mais austera."
Analistas também atribuíram a Serra a valorização sofrida pelas ações da Eletrobrás na última semana. Eles
dizem que a interferência do
governo na gestão da estatal
seria menor com Serra.
"Dilma aumentaria a intervenção do governo na economia", escreveu o economista
José Carlos Faria, do Deutsche Bank, em nota para
clientes ontem. "Por outro lado, o BC provavelmente teria
mais autonomia com ela."
Para Christopher Garman,
um analista da consultoria
Eurasia Group, o comportamento dos investidores nos
últimos dias refletiu uma visão excessivamente otimista
sobre o que Serra faria.
"A leitura do mercado está
errada", disse Garman. "A
equipe de Dilma sabe tão
bem quanto Serra que precisa frear o crescimento das
despesas do governo." Nota
distribuída na terça-feira pela Eurasia estimou em 70%
as chances de uma vitória de
Dilma no segundo turno.
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