São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2010

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JONATHAN WHEATLEY

A importância da austeridade


Quem ganha no 1º turno é sempre mais forte do que quem vence no 2º; Dilma estará mais na mão do PT

NÃO IMAGINAVA que estaria escrevendo esta coluna hoje. Eu, a torcida do Corinthians, a do Flamengo e as de todos os outros times do Brasil achávamos que tudo acabaria no primeiro turno. (A torcida de Yeovil Town, meu timaço, não tinha tanta certeza.) Três semanas atrás, tentei explicar por que achava que teria sido melhor assim. Vou tentar de novo.
Nesta semana, meus colegas da coluna "Lex" do "Financial Times" escreveram que, se os brasileiros se consideram prontos para conviver com um governo mais austero, eles teriam a oportunidade de votar por isso no domingo, optando por José Serra.
Parto do mesmo princípio que meus colegas da "Lex": de que o controle dos gastos públicos é precondição para que os juros possam ser reduzidos sem turbulência, criando condições para o crescimento sustentável.
É uma posição baseada em conceitos que são quase unanimidade entre os economistas, mas não entre os eleitores, como os violentos protestos nas ruas de Paris nesta semana demonstram (no Reino Unido, o governo acaba de fazer uma aposta gigantesca, cortando gastos equivalentes a 4,5% do PIB, de que esse seja, sim, o caminho certo).
Quando escrevi que achava melhor Dilma ganhar no primeiro do que no segundo turno, minha opinião foi tida como um voto de apoio ao programa dela. Mas não foi exatamente isso. Estava partindo de duas conclusões sobre o cenário politico atual no Brasil.
Primeiro, de que Dilma vai ganhar, seja no primeiro ou no segundo turno. Apesar da surpresa enorme no dia 3 de outubro, as pesquisas continuam mostrando isso como sendo, de longe, o resultado mais provável.
Segundo, de que Dilma também entende que uma política fiscal austera terá um papel importante no futuro próximo do Brasil, apesar de sua reputação de esquerdista da velha guarda, estatizante etc. A austeridade no Brasil será especialmente importante agora que a economia global está entrando em uma fase de mais incerteza.
A meu ver, uma vitória de primeiro turno teria dado a Dilma melhores condições de executar políticas austeras, que vão contra as bases do seu partido. Um presidente que ganhe no primeiro turno é sempre mais forte do que um que ganhe no segundo. Agora, Dilma estará mais na mão do PT e dos outros aliados, e o país estará na sala de espera.


JONATHAN WHEATLEY é correspondente do jornal "Financial Times" no Brasil.

AMANHÃ EM ELEIÇÕES:
Claudio Weber Abramo


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