São Paulo, quarta-feira, 23 de março de 2011

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Depósitos "chocam", mas são legais, afirma Munhoz

Presidente da Assembleia diz que obteve R$ 600 mil em empréstimos sem garantia

Deputado nega que tenha praticado desvios quando era prefeito e diz que contratou firma de fachada sem saber

Eduardo Knapp/Folhapress
O presidente da Assembleia de SP, Barros Munhoz (PSDB-SP), acusado de participar de suposto desvio em Itapira (SP)

DE SÃO PAULO

Acusado de participar do desvio de R$ 3,1 milhões na época em que foi prefeito de Itapira (SP), o presidente da Assembleia Legislativa, Barros Munhoz (PSDB), diz ter obtido quase R$ 600 mil em empréstimos entre 2003 e 2004 sem oferecer garantias.
Em entrevista à Folha, ele reconheceu que sua movimentação financeira no período "choca", mas negou ter cometido irregularidades em suas gestões como prefeito.
O Ministério Público o acusa de simular pagamentos a empresas de fachada e receber em troca R$ 933 mil que teriam sido depositados em espécie nas suas contas.
"Nunca fiz trambique. Só por isso é que as minhas contas eram daquele jeito", afirmou o deputado. "Eu sei que choca. "Você teve R$ 600 mil de empréstimos?" Tive."
Quando a existência do processo foi revelada pela Folha, há duas semanas, ele apontou R$ 586 mil em empréstimos como origem dos recursos depositados em suas contas.
Com apenas uma casa e um terreno em seu nome, ele disse não ter precisado oferecer garantias.
"Tem muita gente que confia em mim. Tem gente que me empresta sem garantia real. A garantia é minha palavra, minha assinatura."
Munhoz disse que pediu dinheiro a amigos, bancos e "até agiotas" para "tocar a vida" e "ajudar as pessoas". Ele ganhava R$ 6.200 como prefeito.
"Eu me dediquei de tal forma à prefeitura que prejudicava a minha vida particular, [mas] isso não impedia que eu vivesse porque eu fazia empréstimos", afirmou.
Barros Munhoz diz que foi perseguido por promotores que atuavam em Itapira quando ele era prefeito e os acusa de motivação política.
Ele negou vínculo entre os depósitos em suas contas e os pagamentos da prefeitura a seus fornecedores.
"Eu seria acima de tudo burro, ignorante, tonto, tapado e retardado mental se isso acontecesse", disse.
Munhoz reconheceu que a Conservias, uma empresa que ele contratou como prefeito, era fantasma, mas disse que não sabia disso quando autorizou os repasses.
A Folha localizou em Campinas (SP) uma dona de casa cujo nome foi usado para registrar a firma. "Lendo os fatos, vendo essa mulher, não posso negar que o que aconteceu foi isso."
"A empresa que ganhou não tinha condição e serviu de fachada para alguém que executou. O que infelizmente hoje no Brasil é comum."
O tucano disse que a documentação da empresa foi checada na época e os serviços para os quais ela foi contratada foram prestados.
"Se ela [a firma] na prática não existia, o fato não é este. As obras foram feitas e só foram pagas após medição."
Advogado, o tucano disse não viver só com o salário de deputado (cerca de R$ 26 mil) e afirmou complementar a renda como consultor.
Questionado sobre os clientes, disse: "Não vou entrar na minha vida particular. Daqui a pouco vou ser execrado em praça pública. Eu tenho família."


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