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ANÁLISE POLÍTICA EXTERNA
Pretensão de Lula na ONU é pouco realista
Caso do Irã deixa claro que EUA e Europa tentam manter o máximo do poder que consolidaram no século 20
HÁ PROMESSAS DE MULTILATERALISMO, DAÍ O ACENO A LULA COM A PRESIDÊNCIA DO BANCO MUNDIAL; MAS O LIMITE DA PROMESSA PARECE SER SENTAR À MESA DA GOVERNANÇA, E NÃO TER UM PAPEL EFETIVO NELA
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CLAUDIA ANTUNES
DO RIO DE JANEIRO
Há bastante de verdadeiro
na avaliação -repetida por
especialistas depois do acordo assinado por Irã, Brasil e
Turquia- de que novos polos de influência estão abrindo caminho pelo mundo.
A dispersão foi acentuada
pela crise nos países ricos do
Ocidente, que levou as grandes economias "em desenvolvimento" a se tornarem
parte do motor do crescimento, tendo por isso sido alçadas ao novo G20 financeiro.
Mas está para acontecer,
se é que acontecerá, um big-bang que tornará as instituições da governança mundial
mais representativas de uma
"nova ordem multipolar"
-por ora, mais um conceito
idealizado do que uma definição palpável, como foi a bipolaridade da Guerra Fria.
O que existe, como ficou
claro na reação ao acordo de
Teerã, é um empreendimento decidido dos EUA -ainda
de longe a maior potência
militar e o maior PIB- e dos
seus aliados europeus para
manterem o máximo possível do poder que consolidaram no século 20.
Qualquer definição mais
precisa do resultado disso
dependerá da estabilidade
futura e das opções da China,
a grande potência ascendente. Por enquanto, mais por tática do que por convicção,
Pequim tem preferido a acomodação ao confronto com
os velhos poderes.
É do desfecho desse impasse histórico, improvável
em curto prazo, que depende
a concretização das pretensões internacionais de Lula.
Sua popularidade, seu investimento nas relações com
América Latina, África e
Oriente Médio e o paparico
de que é alvo por parte dos líderes das potências não lhe
garantem cargos que significam projeção e movimentam
muito dinheiro.
Paradoxalmente, a personalidade forte do brasileiro
joga contra ele.
A reforma da ONU e do seu
Conselho de Segurança, que
o ex-secretário-geral Kofi Annan tentou levar adiante, está parada, com pouca chance
de ser retomada.
O governo brasileiro acredita ter superado a resistência dos vizinhos à cadeira
que almeja no órgão ainda
formalmente responsável pela paz e a segurança internacionais. Mas não há a mínima unanimidade na Ásia,
por exemplo, sobre o ingresso do Japão e da Índia.
Em seu estilo apagado, o
atual secretário-geral, Ban
Ki-moon, representa um coletivo que pouco consegue se
mover, seja para concluir a
Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio,
seja para dar uma conclusão
com credibilidade à conferência de Copenhague, sobre
mudança climática.
Esses fóruns revelaram a
predominância do que os
acadêmicos chamam agora
de "coalizões de geometria
variável", alianças em torno
de interesses pontuais que
não se repetem quando se
trata de compromissos mais
abrangentes.
É verdade que há promessas de multilateralismo, no
qual a diplomacia se sobrepõe à força.
Por isso o aceno a Lula
com a presidência do Banco
Mundial, cargo que há 65
anos pertence aos EUA, assim como a direção do FMI é
ocupada por um europeu.
Mas o limite da promessa
parece ser sentar à mesa ampliada da governança, e não
tanto ter papel efetivo na formulação das regras. Basta
ver como evaporaram, no caso iraniano, as loas do francês Nicolas Sarkozy à "aliança estratégica" com o Brasil.
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