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PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010
Verdes bárbaros
Desiludidos com o PT , Caetano, Gil e Bethânia aderem a Marina Silva; senadora vira o xodó dos artistas
BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
Porta-voz de temas da moda, como o ambientalismo e
o consumo consciente, a senadora Marina Silva (PV-AC)
virou a queridinha dos artistas na corrida presidencial.
Ela tem atraído a adesão
de estrelas desiludidas com o
PT, que não se animam a votar na candidata do presidente Lula, Dilma Rousseff, e rejeitam o PSDB de José Serra.
O movimento, espontâneo, é encabeçado pelos doces bárbaros Caetano Veloso,
Gilberto Gil e Maria Bethânia.
Em 2002, todos apoiaram Lula contra Serra. Oito anos depois, decidiram "marinar".
"Marina é novidade com
beleza. É disso que artistas
gostam", diz Caetano. "Não
dá para ver uma mulher tão
elegante, coerente, sincera e
honesta e não querer dar-lhe
o cargo mais alto".
Depois de definir a senadora como uma mistura de
Lula e Barack Obama, o cantor diz que ela representa a
"continuação do amadurecimento político brasileiro",
um passo além de Lula e Fernando Henrique Cardoso.
"Votar em Dilma por lulismo é regressão. Votar em Serra pode representar apreço
pela alternância do poder,
mas é não querer sair do
elenco já dado", justifica.
Ministro da Cultura de Lula por cinco anos e meio, Gil
foi a estrela da festa de lançamento da pré-campanha de
Marina, domingo passado.
Cantou, chamou a senadora de "cabocla decidida e dedicada" e afirmou que ela encarna a "dimensão espiritual
profunda do nosso povo".
"Meu coração pediu assim",
resumiu ele, filiado ao PV.
VOTO DECLARADO
Avessa aos palanques, Bethânia quebrou uma tradição
para declarar a escolha. "Não
escondo de ninguém que
meu voto é dela. De Marina e
da floresta amazônica", disse, via assessoria.
Ela já havia indicado a preferência em outubro passado, em entrevista à revista
"Bravo". "Marina me arrebata. É nobre, firme, sóbria e
passou pelo governo federal
sem se manchar", disse.
"Jurei que não votaria
mais em candidato nenhum,
nem do Executivo nem do Legislativo, mas a Marina talvez me anime a voltar atrás."
A quarta integrante dos
Doces Bárbaros, Gal Costa,
não respondeu. Em 1989, ela
cantou o jingle "Lula-lá" na
TV. Hoje, diz uma assessora,
prefere não falar de política.
A "onda verde" contagia
outros expoentes da MPB,
como a cantora Adriana Calcanhoto, que cantou e discursou na festa da pré-campanha em Nova Iguaçu (RJ).
A presença dos artistas indica que Marina deve explorá-los fartamente no horário
eleitoral gratuito. Em 2008, o
PV usou e abusou de Caetano
na campanha de Fernando
Gabeira à Prefeitura do Rio.
Na reta final, o cantor parecia
ocupar mais tempo dos programas que o candidato.
A ausência de Lula, que
concorreu nas últimas cinco
eleições presidenciais, favorece a migração dos artistas.
Mesmo os mais fiéis ao presidente, como Chico Buarque,
admitem não sentir grande
entusiasmo pela candidata
que ele escolheu.
"Vou votar na Dilma porque é a candidata do Lula e
eu gosto do Lula. Mas, a Dilma ou o Serra, não haveria
muita diferença. Não vai fugir muito do que está sendo
traçado aí", disse, à revista
francesa "Brazuca".
No fim de abril, o maestro
Wagner Tiso convidou artistas para um café com Dilma
no Rio. O evento foi pouco
concorrido. Assinaram a lista
de presenças a atriz Cristina
Pereira e o sambista Marquinhos de Oswaldo Cruz.
Apesar do crescimento nas
pesquisas, a petista enfrenta
resistência semelhante no
meio acadêmico. Intelectuais que votavam em Lula,
como Leandro Konder, Chico
de Oliveira e Aziz Ab'Saber,
anunciaram apoio a Plínio de
Arruda Sampaio (PSOL).
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