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ANÁLISE
É essencial baratear eleições para brecar profissionalização
MARCO ANTONIO VILLA
ESPECIAL PARA A FOLHA
As informações do TSE reforçam uma tendência do sistema político brasileiro. Ter
como profissão ser político
causa estranheza. Uma coisa
é o homem público, aquele
que acaba se dedicando às
grandes questões nacionais e
que, mesmo assim, exerce o
seu ofício. Outra muito distinta é o indivíduo que abandona qualquer trabalho para
se dedicar única e exclusivamente à política.
Durante a Primeira República boa parte dos políticos
desenvolviam outras atividades. Eram fazendeiros, comerciantes, advogados ou
médicos. A política era um
complemento. Evidentemente defendiam seus interesses
de classe. Contudo não abandonavam seus afazeres para
se dedicar só à política.
O surgimento da democracia de massas, em 1945, mudou o panorama político. Democratizou-se o processo
eleitoral e a escolha dos candidatos. A velha elite política
foi substituída, na maioria
das vezes, por profissionais
liberais -basta ver a origem
profissional dos presidentes.
Contudo a consolidação
do processo eleitoral -e não
necessariamente da democracia- foi transformando a
política em profissão. De um
lado, devido à necessidade
de se dedicar exclusivamente ao mandato. Argumenta-se que é impossível exercer a
profissão original e, ao mesmo tempo, fazer política.
Por outro lado, é possível
imaginar que a dedicação à
política acabe criando vícios
antirrepublicanos. É sabido
que o salário acaba, muitas
vezes, não sendo suficiente
para manter os gastos do parlamentar. Muito menos para
que possa preparar-se para a
próxima eleição.
Assim, fica aberto o caminho para práticas que conduzam à corrupção. A intermediação de uma verba pública, a liberação de um gasto
orçamentário pode significar
um "ganho" muito superior a
um ano de recebimento dos
proventos de um deputado.
É essencial baratear o custo de se eleger e a criação de
um sistema eleitoral que permita a efetiva participação,
como candidato, de um cidadão sinceramente republicano. Caso contrário, a cada
eleição aumentará o número
de profissionais da política.
MARCO ANTONIO VILLA, historiador, é
professor da UFSCar.
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