São Paulo, sexta-feira, 23 de julho de 2010

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ANÁLISE

É essencial baratear eleições para brecar profissionalização

MARCO ANTONIO VILLA
ESPECIAL PARA A FOLHA

As informações do TSE reforçam uma tendência do sistema político brasileiro. Ter como profissão ser político causa estranheza. Uma coisa é o homem público, aquele que acaba se dedicando às grandes questões nacionais e que, mesmo assim, exerce o seu ofício. Outra muito distinta é o indivíduo que abandona qualquer trabalho para se dedicar única e exclusivamente à política.
Durante a Primeira República boa parte dos políticos desenvolviam outras atividades. Eram fazendeiros, comerciantes, advogados ou médicos. A política era um complemento. Evidentemente defendiam seus interesses de classe. Contudo não abandonavam seus afazeres para se dedicar só à política.
O surgimento da democracia de massas, em 1945, mudou o panorama político. Democratizou-se o processo eleitoral e a escolha dos candidatos. A velha elite política foi substituída, na maioria das vezes, por profissionais liberais -basta ver a origem profissional dos presidentes.
Contudo a consolidação do processo eleitoral -e não necessariamente da democracia- foi transformando a política em profissão. De um lado, devido à necessidade de se dedicar exclusivamente ao mandato. Argumenta-se que é impossível exercer a profissão original e, ao mesmo tempo, fazer política.
Por outro lado, é possível imaginar que a dedicação à política acabe criando vícios antirrepublicanos. É sabido que o salário acaba, muitas vezes, não sendo suficiente para manter os gastos do parlamentar. Muito menos para que possa preparar-se para a próxima eleição.
Assim, fica aberto o caminho para práticas que conduzam à corrupção. A intermediação de uma verba pública, a liberação de um gasto orçamentário pode significar um "ganho" muito superior a um ano de recebimento dos proventos de um deputado.
É essencial baratear o custo de se eleger e a criação de um sistema eleitoral que permita a efetiva participação, como candidato, de um cidadão sinceramente republicano. Caso contrário, a cada eleição aumentará o número de profissionais da política.

MARCO ANTONIO VILLA, historiador, é professor da UFSCar.



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