São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2011

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A volta do cara-pintada

O senador que estreou na política indo às ruas pelo impeachment agora faz passeata para defender o Rio na batalha do petróleo

Fernando Young Brasileiro/Folhapress
O senador Lindbergh Farias

VERA MAGALHÃES
DE SÃO PAULO

No próximo dia 10, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), 41, voltará a fazer aquilo que o catapultou à política, há quase 20 anos: liderar uma passeata de protesto que tem o governo federal como alvo.
Se em 1992, como presidente da UNE, ele radicalizava no "fora, Collor", agora pede que a presidente Dilma Rousseff, de quem é aliado, tenha "sensibilidade" de apoiar o Rio de Janeiro na luta contra a perda de receita de royalties de petróleo. Mas deixa nas entrelinhas a mensagem de que pode radicalizar.
"Tenho de mostrar firmeza. Esta é a postura que as pessoas querem de mim. Não sou aquele cara do PT em quem alguém dá uma ordem e fica de cabeça baixa", afirma o paraibano radicado no Rio, que fez da briga dos royalties a bandeira para se projetar na disputa pelo governo do Estado em 2014.
Mas o Lindbergh Farias de hoje, que exibe mechas brancas na vasta cabeleira, não é mais o radical do passado. E a mudança foi gradual.
Eleito deputado federal em 1994, na esteira da notoriedade alcançada quando liderou os "caras-pintadas" a favor do impeachment de Fernando Collor, chegou à Câmara pelo PC do B com 25 anos e nenhuma moderação.
Liderou passeatas contra as privatizações e chegou a invadir o tradicional colégio Pedro 2º, no Rio, para impedir que os estudantes fizessem o Provão, exame de avaliação das faculdades instituído pelo governo FHC.
Achando o PC do B muito "pouco revolucionário", se filiou ao PSTU e não foi reeleito. A esta altura, o líder estudantil destemido já era pai de Luiz, nascido em 1995. Pouco depois perdeu o pai, o médico Luiz Lindbergh Farias.

GUINADA
A perda pessoal e a derrota política levaram a um período tumultuado. Sobre os relatos que dão conta de que ele chegou a se internar para tratar o vício em drogas e álcool, o senador é lacônico.
"Tive um problema pessoal num período, quando meu pai morreu. Entrei num quadro depressivo e foi uma fase turbulenta. Mas passou."
A volta por cima começou com o retorno à Câmara, em 2003, depois de nova troca de partido. "Eu achava que era uma loucura não apoiar o Lula em 2002", lembra.
Isso e o "desejo legítimo de voltar à cena" levaram o ex-revolucionário ao PT.
Logo na chegada, novo embate: ele ameaçou votar contra a reforma da Previdência, mas foi enquadrado e escapou da expulsão que vitimou os demais "radicais", como a ex-senadora Heloísa Helena.
"Foi o momento mais difícil da minha trajetória política, porque foi a primeira vez que eu não fui pra cima. Até ali sempre tinha ido para o enfrentamento", lembra.
O recuo lhe valeu a aproximação com o ex-presidente Lula e a candidatura a prefeito de Nova Iguaçu, cidade da Baixada Fluminense para onde transferiu o domicílio um ano antes da eleição de 2004.
Venceu a eleição e foi reeleito quatro anos depois. A administração que o fez ser o senador mais votado da história do Rio também lhe rendeu processos por acusação de irregularidades. Um deles foi arquivado pelo STF (Supremo Tribunal Federal), mas três ainda tramitam.
Com Lindbergh, o PT fincou uma bandeira na Baixada, deixando de ser restrito à zona sul. Mas após deixar a prefeitura, ele se mudou com a família para o Leblon. "Diziam que eu morava na Barra, mas morei oito anos em Nova Iguaçu", afirma.

BEATRIZ
A mudança de endereço não foi a única. Em 2010, Lindbergh e Maria Antonia tiveram a segunda filha, Beatriz, que só foi diagnosticada como portadora de Síndrome de Down ao nascer.
Do choque inicial, o casal rapidamente partiu para a ação. Ela organiza um portal com informações sobre o tema. Ele preside a subcomissão e ajuda na elaboração de um plano nacional para pessoas com deficiência.
"Para nós é uma alegria a cada dia. A Beatriz não é um problema em nada. Ela é o máximo", diz o petista.
Na nova fase rebelde, ele mira o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). "A distorção da federação faz com que um determinado grupo tome conta do Congresso. O poder do Sarney vem dessa distorção."
Embora poupe Dilma da verve incendiária, adverte para o risco de ela não arbitrar a questão dos royalties. "Ela tem de ter cuidado para isso não virar não só uma fratura na sua base política, mas eleitoral. Ela pode perder o Sudeste", diz, se preparando para pintar a cara de novo.

FOLHA.com
Veja vídeo da entrevista
folha.com/no994845


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