São Paulo, terça-feira, 23 de novembro de 2010

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Indefinição no BC leva a alta nos juros

Dúvidas na condução da política econômica sob Dilma fazem mercado deixar calmaria, e taxa tem maior alta do ano

Contratos que vencem em janeiro de 2013 vão de 12,16% para 12,35% em um dia; após eleição, projeção era de 11,78%

Carlos Cecconello/Folhapress
O presidente do BC, Henrique Meirelles, recebe prêmio em SP; sua provável saída do governo alterou humor do mercado

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

Dúvidas sobre a condução da política econômica no governo de Dilma Rousseff fizeram o mercado financeiro abandonar o estado de calmaria visto durante o período da campanha eleitoral.
Os juros dos contratos negociados no mercado futuro dispararam nos últimos dias. Os contratos com vencimento em janeiro de 2013 subiram de 12,16% na sexta-feira passada para 12,35% ontem. Já os juros projetados para janeiro de 2017 passaram de 12,06% para 12,37%.
Essas foram as altas mais fortes em apenas um dia registradas em 2010.
No dia seguinte à vitória de Dilma, o mercado projetava juros mais baixos de 11,78% e 11,63% para o início de 2013 e 2017, respectivamente.
A recente alta nos juros futuros significa que investidores estão pedindo um prêmio mais alto para carregar papéis da dívida pública.
Prêmio mais alto reflete percepção de maior risco em relação a determinados aspectos da economia.
O mercado brasileiro parece apostar em chance crescente de que a nova administração consolide a tendência recente de política fiscal expansionista e seja mais leniente no combate à inflação do que foram o governo Lula e seu antecessor.
O relatório Focus (que traz projeções econômicas de analistas do mercado) divulgado ontem pelo Banco Central (BC) confirmou o temor de inflação mais elevada.
As expectativas para o IPCA (indicador que baliza o regime de metas de inflação) subiram de 5,48% para 5,58% em uma semana.
No mesmo período, as projeções para 2011 passaram de 5,05% para 5,15%.
O aumento das expectativas de inflação e dos juros ocorreram na esteira da confirmação de que Guido Mantega (de tendência desenvolvimentista) continuará no Ministério da Fazenda, e de fortes especulações sobre a provável saída de Henrique Meirelles (visto como ortodoxo) do comando do BC.
Para analistas e operadores do mercado, o que cria maior incerteza não é a saída de Meirelles em si, mas o temor de que o BC poderá perder a autonomia que teve na prática nos últimos anos.
Essa incerteza é alavancada por ruídos em relação à política fiscal, como a indefinição em relação à fórmula que será adotada para o reajuste do salário mínimo.
O temor do mercado é que a continuação da tendência de gastos públicos elevados contribua para pressões inflacionárias e que, com menor autonomia, o BC sofra pressões para não subir os juros, principalmente em 2011, primeiro ano do governo de Dilma Rousseff.


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