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Testemunhas reafirmam compra de votos no AP
Segundo ex-cinegrafista, elas haviam
sido pagas para fazer as acusações
As duas negam que tenham recebido para falar e dizem que quem tentou comprá-las foi o ex-cinegrafista
KÁTIA BRASIL
ENVIADA ESPECIAL A MACAPÁ (AP)
Uma semana depois da
acusação de que o senador
Gilvam Borges (PMDB-AP)
comprou testemunhas no
processo que cassou mandatos do casal João e Janete Capiberibe (ambos do PSB),
duas delas reiteraram à Folha os depoimentos que deram em 2002 ao Tribunal Regional Eleitoral do Amapá.
Na ocasião, as testemunhas Maria de Nazaré da
Cruz Oliveira, 35, e Rosa Saraiva dos Santos, 37, afirmaram que receberam, cada
uma, R$ 26 para votarem em
João (candidato ao Senado) e
Janete Capiberibe (Câmara).
Naquele ano, o PMDB ingressou com representação
contra o casal, e elas foram
testemunhas. Mas o TRE
considerou os depoimentos
improcedentes. O PMDB entrou com recurso no TSE.
Com base nesse recurso, o
TSE cassou Capiberibe em
2005, sob a acusação de
compra de votos, considerando como principal prova
os dois depoimentos.
O beneficiado com a cassação de Capiberibe foi Gilvam Borges, terceiro lugar.
Nas eleições deste ano, o
casal concorreu novamente.
Mas, em razão da Lei da Ficha Limpa, teve seus registros barrados pelo TSE. Ainda cabe recurso. Se mantida
a decisão, Borges, novamente terceiro, será beneficiado.
Maria e Rosa foram ouvidas de novo após a Folha ter
revelado que, em julho, o ex-cinegrafista Roberval Coimbra Araújo disse, em depoimento ao Ministério Público
Federal, que elas receberam
R$ 14 mil para fazer a acusação contra os Capiberibe.
Ainda segundo Araújo, as
duas recebem, faz oito anos,
mesada de R$ 2.000, paga
por Gilvam Borges, aliado de
José Sarney (PMDB-AP).
À Folha, no sábado, Rosa
disse que, em outubro, foi
Araújo quem ofereceu dinheiro para elas mudarem o
depoimento. "Ele ofereceu
R$ 400 mil. O Capi [Capiberibe] que ia dar pra ele."
Rosa e Maria dizem que,
na eleição de 2002, trabalharam na campanha para os
Capiberibe e para Cláudio Pinho, candidato ao governo
pelo PSB. "Se a gente não votasse, não ia ser incluída no
Bolsa Família", disse Maria.
Após o pleito, afirmam que
foram procuradas por Araújo
e pelo advogado Fernando
Aurélio de Azevedo Aquino,
funcionário do Senado até
2009 e autor da ação de cassação movida pelo PMDB.
"O Aquino perguntou se a
gente tinha achado certo [a
compra de votos]. Disse: "Claro que não!'", falou Maria.
Após ele perguntar se iriam à
Justiça, ela disse que sim, por
ter "feito coisa errada". Elas
negaram ter recebido casas
ou mesadas de Borges.
"Somos agentes de saúde,
concursadas. Tenho uma dívida de R$ 12 mil, que foi para
construir minha casa. Se recebesse mesada, minha vida
era outra", disse Rosa.
Durante a entrevista, um
Ford Focus preto passou na
porta da residência, duas vezes, em velocidade baixa. O
carro está em nome da dentista Dilvana Carvalho Silva
Borges, casada com Giodilson, irmão de Gilvam Borges.
Ontem, a TV Tucuju, da família de Borges, veiculou
imagens da entrevista da Folha com Maria e Rosa -gravadas com câmara de celular
pelo marido de Maria, Cirineu dos Santos Silva, 41.
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