São Paulo, quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

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JANIO DE FREITAS

A vitória do fracasso


O que vem se repetindo há anos no transporte aéreo do país é bagunça, ilegalidade e desrespeito crônicos

A DESISTÊNCIA de retirar do Ministério da Defesa, no próximo governo, o problema dos aeroportos e juntá-lo aos portos em ministério próprio, é uma capitulação com vários maus indícios.
Muito além da velha desordem administrativa, a bagunça do transporte aéreo atravessou o segundo mandato de Lula tanto no funcionamento das empresas como na precariedade dos aeroportos -sem nem sequer tentativas reais de alguma solução, por parcial que fosse.
Por si só, a decisão de transferir os aeroportos para outro ministério exprimiu o reconhecimento e a denúncia do fracasso absoluto do Ministério da Defesa.
Das inúmeras providências anunciadas pelo ministro Nelson Jobim sempre com tanto pedantismo, restou só a imagem do pedantismo já engraçado e, muitas vezes, gaiato nas indumentárias farsantes de soldado, de bombeiro, de expedicionário.
Não há mais horários nem mesmo certeza dos voos na aviação comercial brasileira. Comprar uma passagem aérea é entrar no imprevisível do tempo e do espaço. E no território do desrespeito absoluto, onde ninguém tem direito nem sequer à informação, quanto mais às satisfações que até a lei precisou estabelecer -em vão.
Empresas abusam das tripulações e desafiam os regulamentos de trabalho aeronáutico, tão à vontade que depois usam esses abusos como explicação do tumulto de cancelamentos e atrasos de voo. Enquanto os passageiros dormitam pelo chão dos aeroportos de péssimas instalações e piores serviços. Nada a ver com greve.
Sob a assinatura virtual de Nelson Jobim, atingido pelo significado da transferência, e de Antonio Palocci, o argumento para a capitulação foi o risco de fazer a mudança "em uma situação de crise no setor". Ora, o que há agora vem se repetindo há anos, em situação que nem é mais de crise, é de bagunça, ilegalidade e desrespeito crônicos.
Não é seguro, claro, que a mudança de ministério trouxesse as soluções desejadas, que tanto dependeriam das qualidades do (quase) ministro de Portos e Aeroportos como dos meios postos ao seu alcance. Mas mudar seria fazer alguma coisa, tentar, e só nisso mesmo já dar um passo capaz de desdobrar-se em processo de correções e inovações.
Deixar como está é, na melhor hipótese, isso mesmo: deixar que tudo continue apenas como está. E com os governantes de hoje e os de amanhã, os meios de comunicação e outros falando, todos os dias, no problema dos aeroportos para a Copa.
Se a heresia não fere os sentimentos natalinos, digo que, muito antes da Copa, há o problema dos tantos milhares de pessoas com direito de usar -quantas pela primeira vez, em suas novas oportunidades?- um serviço que não seja um insulto.

EM VOGA
A tendência crescente, nos últimos dias, é a de nomeação de certa ministra do Superior Tribunal de Justiça para a vaga no Supremo Tribunal Federal. É pessoa desconhecida publicamente, o que costuma ser, em magistrados, o bom indicativo de que não têm portas fáceis para lobistas, intermediários variados e advogados com menos papéis e muitas conversas.
Mas a tendência recente não excluiu o nome, já citado como candidato, de um também ministro do STJ.

ABRAÇO
Desejo-lhe um Natal sereno como deve ser o Natal.


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