São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ação da PF para proteger fronteira no AM perde força

Operação Cobra, que age contra o tráfico na divisa com a Colômbia, está com apenas 4 dos 9 postos na ativa

Sindicato de policiais federais do AM diz que apreensão de cocaína diminuiu com a falta de estrutura da operação

KÁTIA BRASIL
DE MANAUS

A Operação Cobra, criada há dez anos para combater o tráfico na fronteira do Brasil com a Colômbia, está a caminho da extinção.
A região é uma das mais visadas por narcotraficantes ligados às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). É também o principal ponto de entrada de drogas colombianas destinadas aos EUA e à Europa.
A operação, que foi criada em 2000 e abrigou mais de cem policiais, tem hoje apenas 20. De 2008 para cá, 5 dos 9 postos da Polícia Federal na fronteira foram fechados. Uma décima unidade, prevista no início da operação, nunca foi implantada.
Os postos fechados ficam na área mais tensa da fronteira, conhecida como Cabeça do Cachorro, próxima a São Gabriel da Cachoeira (AM). É por ali que guerrilheiros das Farc fazem incursões no território brasileiro.
O traficante colombiano José Samuel Sánchez, por exemplo, preso neste mês pela PF, utilizava a região como ponto de entrada e saída para drogas, alimentos e remédios para a guerrilha.

INVESTIMENTO
A Operação Cobra custou ao governo federal cerca de R$ 35 milhões, investimento que incluiu a compra de um avião e de um helicóptero.
Hoje, porém, os policiais não contam com nenhuma das aeronaves, que foram deslocadas para outras funções. Segundo um agente, a polícia vê o tráfico aumentar sem poder fazer nada.
A região também está sem o prometido apoio do projeto Vant, que colocaria aviões não tripulados israelenses para vigiar as fronteiras da Amazônia. O projeto deveria ter começado em março, mas não entrou em vigor.
Para Nelson Oliveira, presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Amazonas, o recrudescimento da Operação Cobra acarretou na queda das apreensões de cocaína na fronteira.
De 2005 a 2008, a média da droga apreendida por ano era de 2,3 t. Em 2009, o número baixou para 1,3 t e, neste ano, está em 687 kg.
"A situação é a pior possível. A falta de estrutura fragilizou o combate ao narcotráfico", afirma Oliveira, para quem a Operação Cobra perdeu o perfil investigativo.
O aumento da criminalidade na fronteira levou o Amazonas a cobrar a falta de segurança do governo federal. Em dezembro, a pedido do Estado, foram destacados cem policiais da Força Nacional de Segurança para realizar ações repressivas onde a Cobra deixou de operar.
"Por que aparelhar a Força Nacional de Segurança, e não a Polícia Federal?", questiona Oliveira.
O cientista político Ricardo Bessa, professor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), diz que o controle da fronteira brasileira é uma questão constitucional.
"O traficante passa com a cocaína como se fosse pescador. Se é impossível reprimir o tráfico, que o governo convoque o Exército", afirmou.


Texto Anterior: Toda Mídia - Nelson de Sá: Datafolha lá
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.