São Paulo, domingo, 24 de julho de 2011

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Do núcleo duro de informantes nos Transportes, só restou Passos

Luiz Pagot e Hideraldo Caron, do Dnit, ajudaram Planalto a elucidar acusações, mas caíram durante a crise

Dilma já via sinais de irregularidades nos Transportes desde os tempos da Casa Civil e pedira limpeza na pasta

CATIA SEABRA
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA

Dos três personagens que abasteceram o governo com dados sobre o histórico de corrupção nos Transportes, apenas um sobreviveu e ainda teve direito a promoção.
De secretário-executivo, Paulo Sérgio Passos virou ministro. Os outros dois informantes do Planalto, Luiz Antonio Pagot e Hideraldo Caron, não resistiram à faxina feita por Dilma Rousseff.
No comando do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), caíram sob suspeita de atuar no esquema que eles próprios ajudaram a elucidar.
O trio foi consultado por emissários de Dilma no primeiro dia da crise. Em 2 de julho, quando o caso veio à tona, Passos e Pagot fizeram relatos da gestão do então ministro Alfredo Nascimento.
Deram à presidente a senha de que precisava para remover citados em escândalos relatados na revista "Veja".
A inclusão do nome de Pagot na reportagem, no entanto, causou o primeiro tremor na relação com o governo.
Inconformado, ele foi ao Planalto na segunda-feira seguinte para falar aos ministros Miriam Belchior (Planejamento) e Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) sobre as indicações políticas no setor.
Saiu de lá com o compromisso de ficar no cargo, desde que não fosse comprovado nada contra ele. O recado de Carvalho, segundo relatos, foi claro: "a melhor coisa agora é submergir". Ele, porém, não se conteve.
Nascimento também prestou contas naquele dia. Com lágrimas nos olhos, lamentou ter sucumbido à influência do PR e do deputado Valdemar Costa Neto. Caiu dois dias depois.
Caron foi o terceiro sabatinado. As conversas produziram ao menos três relatórios enviados a Dilma.
Informada de que Pagot estava de férias, a presidente achou bom ganhar tempo. No dia seguinte, entretanto, viu irritada declarações do chefe do Dnit de que "trabalhava normalmente".
Da mesma forma que prometia internamente não atacar o governo, Pagot ameaçava nos jornais que não pagaria a conta sozinho.
Praticamente enterrou suas chances de ficar no posto ao insinuar, a integrantes do PR, que o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, sabia de irregularidades nos Transportes. No governo anterior, Bernardo era titular do Planejamento, que define a liberação de recursos.
Mas, por ordem da própria Dilma, Gilberto Carvalho assumiu publicamente a defesa de Pagot para que ele não se sentisse abandonado.

HIPERTENSÃO
Encarregado de tranquilizá-lo, Carvalho incorporou o papel. Lembrou recentemente a Dilma que nada fora provado. "Se mantiver Pagot, tenho que renomear toda a diretoria do Dnit", reagiu ela.
Dilma já observava desde os tempos de chefe da Casa Civil indícios de irregularidades. Pediu a Nascimento que limpasse o setor. No começo, um problema de saúde indicou que sua orientação não fora obedecida. Pagot foi internado em São Paulo com crise de hipertensão.
Caron, até então seu amigo, apontou a causa clínica: o paciente não aguentou a pressão de Valdemar.


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