São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2010

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PF investiga mandante de quebra de sigilo de tucanos

Testemunha afirma que encomenda de dados de dirigente tucano partiu de Brasília; investigação refez cadeia de comando

ANDRÉA MICHAEL
CLÁUDIA ROLLI

DE SÃO PAULO

A Polícia Federal já descobriu como as declarações de renda do dirigente tucano Eduardo Jorge Caldas Pereira saíram da Receital em Mauá, onde foram obtidas de maneira ilegal, e chegaram até São Paulo, no dia 8 de outubro do ano passado.
Agora investiga o autor da encomenda, que teria vindo de Brasília especialmente para buscar as pesquisas de dados fiscais.
As declarações de EJ, conforme a Folha revelou, foram incluídas em dossiê preparado pelo "grupo de inteligência" criado durante a pré-campanha da candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff.
De acordo com os depoimentos colhidos pela polícia, o office-boy Ademir Cabral encomendou algumas cópias de declaração de Imposto de Renda, entre as quais a de EJ, ao despachante Antonio Carlos Atella, que, por sua vez, repassou o pedido ao office-boy Fernando Araújo Lopes.
Lopes, então, acionou seu "contato" na unidade da Receita em Mauá, a quem já havia recorrido para outros "serviços": a servidora do Serpro (o serviço de processamento de dados do governo federal) cedida ao fisco Adeildda dos Santos.
Na data marcada para a entrega, dia 8 de outubro, Lopes teve de fazer uma cirurgia dentária. Pediu, então, à mulher, Gláucia Alves dos Santos, que encontrasse Adeildda em Mauá para buscar um envelope com os documentos.
De volta a São Paulo, Gláucia entregou o envelope a Atella em um bar. Cabral também estava no local.

PREÇO DOS DADOS
Em depoimento no último dia 20, Gláucia afirmou que o "dono da encomenda" era de Brasília e veio a São Paulo somente para buscar as pesquisas solicitadas, mas não soube dizer seu nome. Afirmou ainda que recebeu R$ 1.200 pelo envelope.
Ouvido no mesmo dia, seu marido, Lopes, disse que cobrou R$ 150 por cada cópia de declaração e que não se lembrava exatamente quanto recebeu pelo negócio, pois não sabia quantas cópias foram entregues.
Em acareação na Polícia Federal anteontem, Atella afirmou que entregou o envelope a Cabral, que teria então seguido para um hotel em São Paulo.
Disse também que o pedido teria sido feito pelo advogado Marcel Schinzari. Cabral e Schinzari negam.

INDICIAMENTOS
Depois de três meses de investigações, com cerca de 40 depoimentos, seis pessoas foram indiciadas sob acusação de violação de sigilo fiscal, uso de documento falso, corrupção passiva e ativa.
Fernando Lopes é frequentador assíduo da agência da Receita de Mauá.
No depoimento que prestou à Polícia Federal, Adeildda afirmou que fornecia para pelo menos três pessoas -entre elas Lopes- declarações de renda e dados cadastrais de contribuintes mediante "agrados" entre R$ 50 e R$ 200.
Adeildda também citou o nome de Danilo (sem sobrenome) e Erick Araújo de Moura, que já foi ouvido e indiciado sob acusação de praticar os crimes de violação de sigilo fiscal e corrupção ativa. Moura revendia os dados a terceiros.


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