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Promessa de dois professores tem falhas
Para educadores, proposta de José Serra não é 100% eficaz na alfabetização e é de difícil implantação nacional
Candidato do PSDB diz que haverá incentivo financeiro a prefeitos e governadores que adotarem o programa
RICARDO WESTIN
DE SÃO PAULO
ANGELA PINHO
DE BRASÍLIA
José Serra (PSDB) diz que,
se eleito presidente, colocará
dois professores em todas as
turmas de 1º ano (antiga pré-escola) das escolas públicas.
A ideia é que, enquanto o
primeiro professor dá a aula,
o segundo percorra a sala
ajudando individualmente
os alunos com mais dificuldade. Serra argumenta que
assim se assegura a plena alfabetização das crianças.
No entanto, especialistas
em educação veem dois problemas na promessa tucana.
Primeiro, é difícil implantar o segundo professor em
todo o país. Depois, o programa por si só não é garantia de
que os alunos aprenderão de
fato a ler e escrever.
A implantação nas cerca
de 110 mil turmas de 1º ano é
pouco provável porque a
grande maioria das escolas
públicas de nível fundamental pertence às prefeituras. O
presidente não pode obrigar
os prefeitos a contratar um
segundo professor.
"Cada município tem autonomia", explica Carlos Roberto Jamil Cury, ex-presidente do Conselho Nacional
de Educação.
O segundo professor já está nas escolas estaduais de
São Paulo e nas municipais
da capital paulista, mas por
decisão do governo e da prefeitura -quando Serra foi
respectivamente governador
(2007) e prefeito (2006).
A campanha do PSDB diz
que Serra oferecerá incentivos financeiros para que as
prefeituras e os Estados adotem o programa federal.
Verbas, entretanto, não
garantem a adesão automática. Na saúde, por exemplo,
apesar de o governo federal
custear a implantação de
UPAs (prontos-socorros),
prefeitos e governadores rejeitam a verba -não querem
programa com a marca do
partido rival.
ESTAGIÁRIO
O segundo professor é, na
realidade, um estudante de
letras ou pedagogia -um estagiário. Em São Paulo, ele
recebe uma bolsa mensal de
R$ 500 e, em alguns casos,
auxílio-transporte de R$ 100.
O alcance nacional prometido por Serra também é limitado pelo fato de não haver
faculdade de letras ou pedagogia em todas as cidades.
Em Santa Catarina, para
que cada turma do 1º ano tenha estagiário, cerca de 50%
dos universitários terão que
ser recrutados. No país, são
necessários 15% dos alunos.
Em termos pedagógicos, a
crítica é que a simples presença do estagiário não assegura a alfabetização. O aluno
de letras, ao contrário do de
pedagogia, geralmente não
vê na faculdade lições de alfabetização, aponta a professora Stella Bertoni, da UnB.
"CIUMEIRA"
Além disso, há a possibilidade de não haver um bom
relacionamento entre professor e estagiário. O professor
pode sentir sua autoridade
ameaçada, e o estagiário pode querer impor as técnicas
de ensino da faculdade.
"Vai haver ciumeira, atrito", diz Onaide Schwartz,
professora da Unesp.
Por fim, corre-se o risco de,
em ausências do professor, o
estagiário ser escalado para
assumir a turma. "Ele não
pode se responsabilizar por
uma sala. Ainda é estudante", afirma Maria Regina Maluf, da PUC-SP e da USP.
Bertoni e Maluf dizem que,
apesar de insuficiente, a presença do estagiário pode ter
bons resultados.
Para defender que a promessa terá sucesso, a campanha do PSDB diz que o número de crianças do 2º ano plenamente alfabetizadas na rede estadual de SP subiu de
88% para 93% em dois anos.
E que na rede municipal da
capital os alunos não alfabetizados caíram 50%.
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