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Chance de Lula comandar ONU é vista com ceticismo
Perfil do presidente, atritos com EUA e regras atuais dificultam pretensão
Pelo atual rodízio entre regiões para comandar entidade, representante da AL só teria direito à vaga a partir de 2027
CRISTINA FIBE
DE NOVA YORK
Não há regra escrita que
impeça o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva de ser secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas),
mas as chances de isso acontecer são próximas de zero,
dizem especialistas.
O presidente tem uma série de obstáculos a superar. A
reforma do Conselho de Segurança, uma das precondições para que entre na disputa, não está no horizonte.
Os pontos de vista bem definidos de Lula sobre vários
temas polêmicos são outro
entrave, porque isso não costuma combinar com o perfil
do secretário-geral, mais discreto e conciliador.
Por fim, um rodízio informal entre os continentes significa que a vez de um latino-americano assumir o comando da ONU viria só em 2027.
"Não há sinais de que a reforma [do Conselho de Segurança] vá acontecer em breve. Há rivalidade demais entre as regiões do mundo para
concordarem sobre qual país
as representaria", diz Linda
Fasulo, autora de "An Insider's Guide to the UN" (guia
da ONU por um insider).
Para que a reforma que o
Brasil almeja seja concretizada, cada região precisaria
eleger um representante para ocupar novos assentos
permanentes, que hoje são
cinco -EUA, China, Rússia,
Reino Unido e França.
A diferença de opiniões
com os EUA sobre temas chave, como no caso do Irã é outro fator que coloca em risco
a nomeação de Lula, dizem
diplomatas ouvidos pela Folha. Ela precisaria do aval do
Conselho de Segurança, onde os EUA têm direito a veto.
PERFIL DISCRETO
O Conselho de Segurança
prefere figuras mais discretas, diz Fasulo, e Lula "tem
muita bagagem política, no
sentido de que todos sabem
suas preferências, então os
que discordam dele vão garantir que seja derrotado".
Mas, na hipótese de a reforma na ONU acontecer e o
Brasil conquistar a vaga permanente, o cenário não melhora: há um "acordo de cavalheiros" que impede os
permanentes de concorrer à
secretaria-geral. Seria muito
poder para uma só pessoa.
O professor Edward Luck,
licenciado da Universidade
Columbia para atuar no International Peace Institute,
ligado à ONU, diz que a entidade costuma seguir a rotatividade geográfica na ocupação de seu principal posto.
Cada região fica dez anos no
cargo. O coreano Ban Ki-moon, no poder desde 2007,
deve ser reeleito para novo
mandato, até o fim de 2016.
De 2017 a 2026, a vaga deve
ser ocupada por um país do
Leste Europeu. A América
Latina pode considerar ter a
liderança a partir de 2027,
quando Lula terá 81 anos.
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