São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2010

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ANÁLISE

Seja quem ganhar a eleição, partidos aliados farão a festa


ESCORADOS EM ALIANÇAS EXTRAVAGANTES, DILMA E SERRA COMPROMETEM, JÁ NA CAMPANHA, A CAPACIDADE DE SE FIRMAREM COMO LIDERANÇAS ÉTICAS


JOSIAS DE SOUZA
DE BRASÍLIA

O fisiologismo deixou de ser percebido como parte do sistema político brasileiro. Passou a ser entendido como o próprio sistema.
A reiteração do fenômeno conferiu ao anormal ares de normalidade. Em nome da pretensa "governabilidade", o absurdo passa por natural.
A campanha atual, marcada pela ausência de oposição a Lula, vai ao verbete da enciclopédia como marco estético na história das eleições.
O Brasil, que nunca tivera políticos de direita, perdeu também os que ainda se diziam de esquerda. Restou um imenso centrão.
Dilma Rousseff e José Serra são prisioneiros de um paradoxo. Prometem a continuidade do "avanço" atrelados ao atraso.
Mantém-se agora agora o ciclo que FHC batizara de "realismo". Em meio ao surto de amnésia, ninguém se lembra mais do que escreveu, disse ou fez no passado.
A Brasília dos últimos anos firmou-se como templo de um sistema administrativo que gira em torno de privilégios, verbas e empregos.
Tancredo Neves teve a sorte de morrer antes de por em prática a armadilha que engendrara. Herdeiro dos acordos, José Sarney honrou-os.
Acossado pelo impeachment, Fernando Collor renovou-os. Itamar Franco preservou-os. E Fernando Henrique Cardoso vestiu-os com traje intelectual.
Situou o anômalo num ponto qualquer entre as duas éticas de Max Weber, a da convicção e a da responsabilidade. Ao chegar ao Planalto, em 2002, Lula trazia na face a ilusão da novidade.
Dizia-se que, menos inepto que Sarney, mais honesto que Collor, menos transitório que Itamar e mais firme que FHC, teria autoridade para deter a sanha fisiológica.
Deu-se o oposto. O calor de urnas logo se esvaiu no chão frio e escorregadio do dia-a-dia administrativo. A aparência de super-homem derreteu no mensalão.
Vencido o ritual da eleição, os partidos consideram-se credenciados a avançar pelas estruturas do Estado. Em troca do apoio, pedem, exigem, chantageiam.
De um líder se espera que fixe padrões morais. Escorados em alianças extravagantes, Dilma e Serra comprometem, já na campanha, a capacidade de se firmarem como lideranças éticas.
No Brasil, aliança política tornou-se sinônimo de coligação partidária com fins lucrativos. Os partidos são movidos à base de certeza.
Sabem que, seja quem for o eleito, voltarão a entoar Ivete Sangalo, em 2011: Vai rolar a festa. Ou, por outra: a festa continuará rolando.


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