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Lula critica Folha e diz que sofreu preconceito
Em comício, presidente cita almoço que abandonou após ser questionado sobre alianças
FÁBIO AMATO
ENVIADO A CAMPO GRANDE
O presidente Luiz Inácio
Lula da Silva criticou ontem
a imprensa durante comício
em Campo Grande (MS) ao
lado da candidata do PT à
Presidência, Dilma Rousseff.
Lula disse que foi vítima
de preconceito da mídia que,
segundo o presidente, não
acreditava que ele seria capaz de governar por não ter
curso universitário e por não
saber falar inglês.
"Uma vez eu estava almoçando na Folha de S.Paulo e
o diretor da Folha de S.Paulo perguntou para mim: "Escuta aqui, candidato, o senhor fala inglês?" Eu disse
não. "Como é que você quer
governar o Brasil se não fala
inglês?" Eu falei: "Mas eu vou
arrumar um tradutor". "Mas
assim não é possível. O Brasil precisa ter um presidente
que fala inglês". E eu perguntei para ele: "Alguém já perguntou se o Bill Clinton fala
português?", afirmou.
"Eles achavam que Bill
Clinton não tinha obrigação
de falar português. Era eu, o
subalterno, o país colonizado, que tinha que falar inglês. Teve uma hora que eu
me senti chateado e levantei
da mesa. E falei: "Não vim
aqui para dar entrevista, vim
para almoçar. Se é entrevista
eu vou embora". E levantei,
larguei o almoço, peguei o
elevador e fui embora."
Lula afirmou ainda que
vai terminar o mandato "sem
precisar ter almoçado em nenhum jornal, em nenhuma
televisão". "Também nunca
faltei com respeito com nenhum deles, já faltaram com
respeito comigo. (...) Se dependesse de determinados
meios de comunicação, eu
teria zero na pesquisa e não
80% de bom e ótimo como
nós temos neste país."
O episódio ao qual Lula se
referiu ocorreu em 2002,
quando ele, então candidato
à Presidência, se retirou de
um almoço com diretores e
editores da Folha na sede do
jornal. O petista se irritou
com duas perguntas feitas
pelo diretor de Redação, Otavio Frias Filho.
Frias Filho perguntou a
Lula se ele havia se preparado intelectualmente nos últimos 20 anos para credenciar-se a ocupar a Presidência. O
então candidato negou-se a
responder a pergunta, alegando que era preconceituosa. O jornalista manifestou
estranheza com a recusa.
Pouco depois, o diretor de
Redação voltou a interpelar
Lula sobre a aliança do PT
com o PL, que o jornalista
qualificou de linha auxiliar
do malufismo. Em meio à resposta de Lula, Frias Filho voltou a questioná-lo, afirmando que sua explicação era
evasiva. Nesse momento Lula levantou-se e deixou o encontro, acusando o diretor do
jornal de estar a serviço de
outra candidatura, numa
alusão ao tucano José Serra.
RÉPLICA
Para Frias Filho, "a memória do presidente anda ruim
ou ele está distorcendo o episódio de propósito". De acordo com o diretor da Folha, no
almoço a que Lula se refere o
então candidato "não foi interpelado sobre falar ou não
inglês, mas sobre sua política
fisiológica de alianças e sobre o fato de ostentar desprezo pelo estudo mesmo depois
de se tornar um líder nacional". Frias diz que o incidente foi assim noticiado pela
própria Folha no dia seguinte, sem contestação de Lula.
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