São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2010

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ENTREVISTA ALOYSIO NUNES

Luta armada foi um erro

Candidato tucano afirma que sua participação foi um equívoco muito sério, mas motivado por razões éticas

EVANDRO SPINELLI
DE SÃO PAULO

"Quem bate em mulher é covarde. Se alguém se sentir incomodado que se declare."
Aloysio Nunes (PSDB) fala de Netinho de Paula (PC do B), seu adversário na disputa por uma vaga no Senado pelo Estado de São Paulo, mas não diz que é ele. "Eu não me interesso pela vida do Netinho, nunca me interessei nem vou me interessar."
Lembrando de seu passado de luta armada, quando chegou a participar de assaltos, Aloysio diz que foi um erro. Mas não se arrepende. "Aquele caminho que eu adotei eu considero que foi um equívoco político muito sério, mas eu adotei por um impulso ético."
Terceiro colocado na disputa por duas vagas paulistas no Senado, Aloysio recebeu a Folha em seu escritório de campanha no antigo edifício Joelma no fim da tarde de quinta-feira para uma entrevista de 40 minutos.
Na conversa, Aloysio admite que quis ser candidato a governador, mas nega ter intenção de concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2012.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

 

Folha - O sr. já esteve em Brasília, conhece a política de Brasília. Como vai ser voltar e reencontrar José Sarney e Renan Calheiros, por exemplo, caso o sr. seja eleito senador?
Aloysio Nunes -
Tenho uma longa vivência no Congresso. Estive lá durante 12 anos. Isso me deu um traquejo político muito grande e vai facilitar o exercício do meu mandato de senador porque as coisas de SP são sempre vistas com um pé atrás.
Se você não fizer boas alianças, boas articulações, você tem menos condições de defender os interesses do Estado. Eu tenho bagagem parlamentar grande, conheço o Congresso, e sempre tive fama de bom articulador. E vou continuar sendo, se for senador.

Como o sr. tem visto essa sequência de crises do Congresso Nacional, especialmente do Senado?
Eu acho que quem dá o tom da vida do Congresso, é a Presidência da República. A pauta do Congresso quem faz é o presidente. Não apenas a pauta legislativa, pelo poder avassalador que o presidente tem, de emitir medidas provisórias, de formar maioria, mas o presidente tem também a pauta da mídia.
Eu penso que em boa parte esses descaminhos do Congresso se devem ao fato de o presidente da República não ter uma pauta legislativa clara, ter optado por acordos no varejo, que deu imensa força ao chamado baixo clero, que passou a dominar comissões importantes da Câmara, e é preciso reagir.
Uma forma de reação, que hoje eu resumiria em uma proposta única, é o voto distrital, começando pelo voto distrital na eleição dos vereadores nas cidades com mais de 200 mil eleitores.

O sr., como Dilma Rousseff, militou em organizações de extrema que praticavam a luta armada.
Muitos jovens da minha geração, num determinado momento optaram por um caminho de extrema esquerda. Muito mais por indignação do que como consequência de uma elaboração política cuidadosa.

A oposição ao governo Lula, o próprio PSDB, acusa Dilma de ter sido terrorista, de esconder o passado.
O PSDB jamais fez isso. Entende o momento da história. Eu hoje acho que foi um equívoco profundo esse caminho. Acho que o caminho correto foi o caminho que logo em seguida eu adotei, que foi o caminho da luta de massas, da luta legal, da formação de uma frente democrática. Mas houve um momento da minha vida, quando eu tinha lá meus 21 anos, em que eu acreditava no caminho da luta armada.

No seu programa eleitoral o sr. tem dito que quem bate em mulher é covarde sem citar a pessoa a quem o sr. se refere, que é o seu adversário Netinho de Paula. Por quê?
Porque quem bate em mulher é covarde. Estou me referindo a todos aqueles que batem em mulher. Agora, se alguém se sentir incomodado que se declare.

Há uma vinculação imediata porque Netinho é acusado de agressão à ex-mulher.
Eu não me interesso pela vida do Netinho, nunca me interessei e nem vou me interessar.

Ele pode ser seu companheiro de bancada paulista no Senado Federal.
Pode ser, mas eu não me interesso pela vida particular dele. Eu não tô nem aí pra ele, se você quer saber.
Eu sei que ele é vereador. Não conheço nem a atividade legislativa dele, parece que não é muito abundante.

Com a Marta o sr. teve mais convivência.
A Marta foi minha colega na Câmara, convivi com ela em várias circunstância. Ela eu conheço, tem uma história política já, foi julgada pela opinião pública de São Paulo, os mandatos que pleiteou, alguns com sucesso, outros não.

O sr. trabalhou para ser o candidato do PSDB ao governo do Estado?
Eu gostaria, eu tinha vontade, claro, eu me sentia preparado para isso. Muitas pessoas achavam que eu devia ser candidato. Mas eu cheguei à conclusão de que o melhor candidato era o Geraldo Alckmin. Porque aquela intenção de voto que as pesquisas da época registravam não eram um mero recall, era o resultado de uma excelente avaliação retrospectiva do governo que ele havia feito.

O sr. sendo senador, passa a ser um nome natural a outros cargos, como prefeito de São Paulo e governador.
Não tem nome natural. Eu tenho a intenção de ser senador, efetivamente.


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