São Paulo, segunda-feira, 25 de outubro de 2010

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Idolatria por Lula e militância paga motivam petistas

Campanha de Dilma foi acompanhada pela Folha nos últimos 3 dias em Belo Horizonte, Carapicuíba e Rio

"Eu confio nela [Dilma], mas igual a ele nunca vai ter", afirma apoiadora; bolinha de papel vira alvo de ironias

BERNARDO MELLO FRANCO
ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE, A CARAPICUÍBA (SP) E AO RIO

"Muita gente vai votar nela para ele voltar depois. A verdade é que o povo já tá com saudade dele", disse na manhã de sábado a funcionária pública Cida Aguiar, 34, minutos antes de o helicóptero petista pousar em Carapicuíba (Grande São Paulo).
Ele é Lula, o primeiro operário a governar o país, a pouco mais de dois meses de passar a faixa presidencial.
Ela é Dilma Rousseff, candidata do PT ao Planalto, que lidera as pesquisas para a eleição deste domingo.
O clima de despedida do presidente deu o tom emocional do último fim de semana da campanha petista, quando ele comandou carreatas por áreas pobres ao lado de sua candidata.
O desejo de ver e ser visto por Lula fez eleitores encherem calçadas, escalarem muros e se espremerem em janelas em Diadema e Carapicuíba, na grande São Paulo (sábado), e nos bairros de Bangu e Realengo, na zona oeste do Rio (domingo).
Nos dois dias, repetiram-se cenas de choro e de beijos dirigidos ao presidente. Ele retribuiu na mesma moeda, mandando o motorista parar o carro aberto para distribuir abraços e cutucando Dilma quando ela se distraía e não correspondia a um aceno.
"Vou votar nela porque estou satisfeita com o governo dele", resumiu a dona de casa Maria de Fátima Carvalho, 53, após a carreata de ontem no subúrbio carioca. "A gente tem que pensar positivo e ter esperança de que ela vai continuar."
A poucos quilômetros de Campo Grande, onde o candidato José Serra (PSDB) foi hostilizado por petistas na semana passada, não havia sinais de tensão eleitoral.
Pelo contrário: sem adversários por perto, o episódio foi transformado em piada pela minoria de militantes mais engajados, com ligação a sindicatos ou ao PT.
Um deles, que não quis se identificar, circulava com camiseta do partido e uma bolinha de papel amarrada ao cabelo, endossando a versão de Lula de que o tucano teria encenado a agressão. (Serra diz ter sido atingido por um rolo de adesivos atirado 15 minutos depois da bolinha).
De chapéu e tênis vermelhos, o bancário Roberto Rossi, 52, ria da invenção do colega. "Aquilo não fez nada a ele. Se ainda fosse uma latinha de cerveja, né?"
O caso que inflamou o conflito entre PT e PSDB animava um grupo de 20 jovens militantes na tarde de sexta-feira, em ato da campanha petista em Belo Horizonte.
Depois de improvisar uma coreografia do "Dilmalation", inspirada no rebolation baiano, a turma explodiu num coro debochado contra o tucano: "Ô José Serra, mas que caô/ A bolinha de papel não machucou".
A empolgação dos estudantes quebrou a monotonia do único evento sem Lula dos últimos três dias: um encontro de Dilma com políticos mineiros, no Iate Clube.
Na ausência do presidente, a campanha precisou recorrer a militantes pagos ou de movimentos sociais amigos para encher o salão de festas onde a candidata discursou. A maior claque, de cerca de 30 pessoas, segurava bandeiras do PR.

CADÊ O BUFÊ
"Disseram que ia ter bufê, mas não teve. Era mentira", reclamava a desempregada Luciana Rodrigues, 35, à espera do ônibus para voltar à periferia de BH.
Com a sigla na camiseta, ela não sabia nomear um político do partido, que pagou R$ 450 por 15 dias de "militância". Disse ser fã do senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG), que perdeu a chapa tucana para Serra. "Se fosse ele não tinha para ninguém aqui. Mas agora sou Dilma", explicou-se.
Entre os jovens do coro, o discurso era de dedicação voluntária ao PT. "A gente milita em busca de um ideal. O pessoal do Serra só fica na rua até as 16h, quando acaba o horário deles", provocava o estudante Yuri Terra, 24, bolsista do ProUni.
Em Carapicuíba, onde outra claque do PR recebia R$ 600 pelo mesmos 15 dias, um grupo de dez mulheres petistas dizia madrugar na busca de votos em porta de fábrica.
Encostada ao palanque, a cadeirante Aparecida Antenuzi, 39, assistiu ao comício aos prantos e jurou fidelidade ao presidente. "Ele é diferente dos outros políticos porque sabe o que é passar fome", disse ela, vítima de paralisia infantil aos 3 anos.
Quando a reportagem lembrou que a candidata era Dilma, afirmou: "Eu confio nela, espero que ela possa seguir as coisas que o Lula fez. Mas igual a ele, tenho certeza que nunca vai ter".


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