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Ideal, antipetismo e ajuda de custo movem tucanos
Entre sexta e ontem, reportagem da Folha acompanhou eventos de José Serra em Porto Alegre, Campinas e Rio
Militantes citam a atuação de Dilma na ditadura e afirmam que, sob o PT, país pode virar uma Venezuela
LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE,
A CAMPINAS E AO RIO
O pink quase fosforescente, uniforme do grupo de 20
mulheres que aguardava a
chegada de José Serra na porta de um hotel de Porto Alegre (RS), na última sexta-feira, só não chamava mais
atenção do que a gritaria que
elas promoviam -"Brasil Decente, Serra Presidente!"
Quando se cansavam, as
militantes sacavam cópias de
um artigo de jornal em que se
lia: "Dilma Rousseff defende
a legalização do aborto", e
começavam seu proselitismo: "Somos a favor da vida, e
Dilma tem sido ambígua demais quando o assunto é
aborto", repetia a presidente
da Ação da Mulher Progressista do Rio Grande do Sul,
Ana Gorski Rodrigues.
O entusiasmo das Penélopes Charmosas gaúchas por
José Serra não depende de
ajudas de custo, quentinhas
com almoço ou promessas de
emprego. "É ideologia mesmo. É um ideal", dizia a octogenária cor-de-rosa do boné
ao tênis, só os imensos olhos
azuis destoando.
"É por ideologia, sim, que
estou aqui", proclamava o
segundo tenente reformado
Adair Gonçalves, 60, gaúcho
de Pelotas, ontem, na caminhada com Serra pelo calçadão de Copacabana, no Rio.
Gonçalves, membro de
uma comunidade de militares na internet chamada
"Brasil Acima de Tudo", fez
questão de levar para o ato
duas "bombas", como ele
chamava duas folhinhas que
exibia para todos em volta.
Em uma, via-se imagem de
Dilma supostamente fotografada ao lado de uma metralhadora.
A coordenação de campanha da candidata petista tachou a imagem de "fotomontagem grosseira" -"Mesmo
no julgamento a que a ditadura a submeteu, ela não foi
acusada de ter participado de
nenhuma ação que envolvesse armas", diz um blog antiboatos mantido pelo PT.
A outra "bomba" de Gonçalves era uma suposta certidão de nascimento lavrada
na Bulgária, atestando que a
candidata petista teria nascido naquele país. "Ela nem
brasileira é", pregava o militar reformado.
No calçadão de Copacabana, distribuíram-se 200 capacetes, desses de operários,
que foram disputados a empurrões pelos serristas.
Os mesmos capacetes já
haviam aparecido, na véspera, em um bairro popular de
Campinas onde Serra fez
campanha. "É para a gente se
proteger das agressões petistas", disse a psicóloga e escritora Ana Parreira, 58. "Pode
vir coisa bem pior do que bolinhas de papel." Não veio.
"Nós não queremos que o
Brasil se transforme em uma
Cuba ou em uma Venezuela", discursava, risonha e
confiante entre suas amigas,
a administradora de empresas Maria Tavares, 65. O forte
sotaque nordestino, ela não
revelava de onde é. As amigas em tom de mistério diziam que Maria é uma celebridade da política alagoana
refugiada há anos no Rio
-mora ali, na área nobre da
avenida Atlântica que assistiu à manifestação tucana.
O professor universitário
de Direito João Francisco
Sauwen Filho, 74, acompanhado pela também professora Regina Fiuza, 66, assim
explicou seu apoio à candidatura Serra: "Cansei dessa
cafajestocracia que dominou
o Brasil." Instado pela Folha
a explicar seu ponto de vista,
o docente completou: "Posso
estar sendo um tanto heterodoxo, mas eu não acredito
em nenhuma solução que
não passe pelas elites. A solução que não passar [pelas
elites] é meia-sola", disse.
Entre tantos militantes
"ideológicos", ainda se vê,
no meio das hostes serristas,
o velho cabo eleitoral remunerado, aquele sujeito que,
em troca de R$ 50, agita durante seis horas consecutivas
as bandeiras do PSDB. Como
Natália Antunes, 25, moradora de um conjunto residencial popular.
No sábado, Natália e um
grupo de 60 outras jovens,
faziam figuração em uma rápida visita de Serra à periferia de Campinas (SP).
Serra desceu da van, andou menos de 100 metros,
cercado por um enxame de
repórteres e fotógrafos, parou no estacionamento de
uma lanchonete, deu uma
entrevista coletiva em que
detonou o PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento),
peça-chave do programa do
PT, entrou na van e sumiu.
"Foi rapidinho", comemorou Jenifer Souza, 21, que receberá como se tivesse trabalhado seis horas. Natália vota
em Serra, convicta. Suas amigas, não. São dilmistas que
estão ali só por causa do dinheiro. Todas estão desempregadas. "Bandeirar é nossa
atual profissão", diz, aproveitando para pedir "uma vaguinha na Folha depois que
a campanha acabar".
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