São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 2011

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ENTREVISTA KÁTIA ABREU

"Eu estou aflita para conversar com a presidente"

DE SAÍDA DO DEM PARA O PSD, SENADORA DIZ QUE SERÁ "PARCEIRA" DE DILMA EM QUESTÕES COMO A REFORMA PREVIDENCIÁRIA E INFRAESTRUTURA

Eduardo Anizelli - 8.nov.2010/Folhapress
A senadora Kátia Abreu, em São Paulo

SILVIO NAVARRO
VERA MAGALHÃES

DE SÃO PAULO

"Eu tenho tanto pra lhe falar...". É entoando versos de Roberto Carlos que a senadora Kátia Abreu (TO), 49, de saída do DEM para fundar o PSD, responde se tem interesse em conversar com a presidente Dilma Rousseff.
Apesar disso, ela nega que a nova sigla -da qual pode ser presidente nacional- vá integrar a base dilmista.
Caberá à futura direção, diz, estabelecer os princípios doutrinários.
Mas admite que, com filiados de tão diferentes origens, a legenda terá de ter "tolerância com o intolerável" -para, em seguida, explicar que isso não se estende a questões éticas.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida ontem à Folha, em São Paulo.

 

Folha - O PSD já nasce como um partido médio. A fonte é só a desidratação do DEM?
Kátia Abreu -
Para nossa surpresa, tem gente de todos os partidos, inclusive da base, sinal de que há uma insatisfação nos partidos. Quando o Kassab iniciou dizendo que ia fundir com algum partido, creio que ele imaginava que teríamos de 12 a 15 deputados. Vamos chegar a mais de 40. Agora eles é que vão querer fundir com a gente.

Como conciliar pessoas de origem tão diversa?
Nós vamos ter que ter tolerância com o intolerável, no sentido programático. Aceitar que pessoas votem de forma diferente nas mesmas questões. Votar a favor, por exemplo, de aumento de impostos, para mim é intolerável. Mas pode ter gente no partido que pense diferente.
Não gostaria de dar uma resposta taxativa porque não tenho a incumbência de responder pelo partido. Primeiro precisamos eleger um presidente, ter uma fundamentação doutrinária, mas respeitando as diferenças e prioridades de cada um.

O PSD vai integrar a base do governo Dilma?
Não, nisso eu serei resistência. Porque não quero trocar favores, quero lutar por princípios democraticamente. Trocar princípios por ministérios, isso não.

Mas a sra. aceitaria sentar para debater com a presidente?
Eu estou aflita por isso! Sou presidente da CNA, preciso falar muito com ela! [canta Roberto Carlos] Estou aflita para falar da nova política agrícola para o país. Preciso falar com ela.

O prefeito Gilberto Kassab disse que o PSD não será um partido de centro, de esquerda, de direita. Como é isso?
Pelo que eu conheço dele, estava dizendo que será um período conturbado até 2014, quando passaremos uma régua devido às eleições.

Onde vão buscar militância?
Na classe média.

Vai sobrar classe média para todo mundo?
Eu disse isso antes do Fernando Henrique Cardoso e do Lula. São 100 milhões de pessoas. Tem que ter foco em quem está sem defesa, totalmente desprotegida.

E qual é o discurso do partido para atrair essa classe média?
A defesa dela como consumidor e contribuinte. A tributação brasileira não está sobre a renda, está sobre o consumo do sal, do feijão, da manteiga. E quem é que está contribuindo mais? Se a classe média é metade do país...

Redução da carga tributária já não é bandeira do DEM?
Não é a carga simplesmente. Imagine se tivéssemos essa carga e todos pudessem ser atendidos pelo SUS. A carga é nociva quando mal utilizada. Estamos com um rombo na Previdência e o Orçamento, engessado. É aplicação melhor do tributo.


Como avalia esse início de governo Dilma?
Falta mais clareza. Compreendo que não é fácil cortar gasto público. Ela não tem alternativa sem uma reforma previdenciária e sem uma reforma política.

Há clima para aprová-las?
Eu sou parceira número um dela [Dilma], ajudo nisso. Posso até relatar, se ela quiser. Ela precisa dar sinais. Os sinais que ela deu em relação à política externa e aos direitos humanos eu aplaudo.
Mas o ônus virá nos cortes. Ela diz que não vai cortar nem no PAC nem nos programas sociais. Quero que ela diga onde é. Se quiser que os parlamentares abram mão de 100% das emendas, sou a primeira a assinar.

Como o PSD fará sem tempo de TV nem Fundo Partidário?
Candidato bom consegue tempo de TV com coligação. Se não tem tempo, é porque é inviável. Quanto ao financiamento, a gente vai levando. E podemos arrumar parcerias na iniciativa privada.

Para 2014, o que a sra. espera?
Dilma é candidata à reeleição, se estiver bem -e vou torcer para que esteja-, ou Lula poderá retornar. Na oposição é Aécio ou Serra. Mas acho que vai surgir uma força dentro da própria base. O PSB tem nomes, o Eduardo Campos [governador de Pernambuco], o Cid Gomes [governador do Ceará].

E o PMDB?
Acho que se escravizou na vice, vai repetir a dose.


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