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ENTREVISTA MARINA SILVA
Estúpidos são os que não aprendem nem com os seus erros
CANDIDATA DO PV AFIRMA QUE O PT NÃO TOMOU NENHUMA PROVIDÊNCIA PARA EVITAR QUE OUTRO ESCÂNDALO OCORRESSE DENTRO DA CASA CIVIL
BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
Leia os principais trechos
da entrevista.
Folha - Como a sra. vê a série
de escândalos que marca esta
reta final da campanha?
Marina Silva - Tivemos, na
história do Brasil, sucessivos
casos graves de corrupção e
tráfico de influência. Houve a
compra de votos para a reeleição, no governo Fernando
Henrique Cardoso. Depois o
mensalão, no governo Lula.
Sábios são os que aprendem com os erros dos outros,
e estúpidos são os que não
aprendem nem com os próprios erros. Os partidos que
estiveram no poder tiveram a
oportunidade de aprender,
mas as pessoas sempre são
tentadas a se colar nos ganhos e nos acertos. Quando
acontecem os erros, aí não é
responsabilidade sua.
O PT aprendeu com o caso do
mensalão?
Uma parte do PT aprendeu
muito. Outra parte parece
não ter aprendido. As denúncias que surgiram nos últimos dias revelam isso. Ficam
tão focados no que serve para
faturar eleitoralmente que
não tratam dos problemas.
Você não pode negligenciar os problemas, mesmo
que isso renda desconforto
político e perda de popularidade. As coisas que precisam
ser feitas têm que ser feitas.
O que a incomoda mais?
O que incomoda é que
houve uma crise grave em
2005 e agora essa crise se repete de novo. Não foi tomada
nenhuma medida para evitar
que isso acontecesse de novo
na Casa Civil. Em cima da figura do presidente, que precisa ser protegida desse tipo
de coisa. Um ministro da Casa Civil [José Dirceu] já tinha
caído por causa disso, e o erro se repete novamente.
Os casos são comparáveis?
Um era mensalão e o outro
é tráfico de influência. Mas
são graves do mesmo jeito.
Gravíssimos.
A sra. afirmou que só critica o
Bolsa Família quem não sabe
o que é passar fome. A oposição passou muitos anos batendo no programa. Ela se
distanciou do povo?
Houve falta de sensibilidade para um problema grave,
que precisava ser enfrentado. Isso se revela nos discursos, mas também na ausência de políticas consistentes
para esses segmentos da sociedade durante muitos anos
[no governo tucano].
Agora vejo o candidato José Serra dizendo que vai dobrar o Bolsa Família, dar o
décimo-terceiro do Bolsa Família. Pergunto se o partido
dele [PSDB] e o DEM, que criticaram tanto o programa, estão fazendo uma revisão, ou
se é só em função da eleição.
O eleitor percebe isso?
As pessoas percebem
quando você está levantando
uma questão como compromisso, e não apenas como
promessa. Quando você está
reconhecendo um ganho real
ou está fazendo uma apologia para faturar.
A sra. ficou sozinha na defesa
do ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso...
As pessoas perguntam por
que falo do Plano Real e do
FHC, se nem o Serra o defende. Dizem que tira voto. Não
falo para ganhar voto, falo
porque é justo. Reconhecer
ganhos do Real e da política
social de Lula é ter um olhar
honesto para a História.
Serra foi para o ataque, mas a
sra. foi quem cresceu com os
escândalos. Por quê?
Porque sou a terceira via
que o eleitor está buscando.
O eleitor compreendeu que a
Dilma e o Serra são muito parecidos, que as alianças que
eles têm são mais do mesmo.
Há uma repetição quase neurótica do discurso político,
sem nada de novo.
O eleitor está cansado de
ver isso. Ele quer alguém que
olhe para as questões graves
e não faça discurso populista
para faturar a eleição, dizendo que vai resolver tudo num
passe de mágica. Agora as
pessoas prometem tudo. A
gente tem que respeitar a inteligência do cidadão.
Serra prometeu elevar o salário mínimo a R$ 600 e criar o
13º do Bolsa Família. É disso
que a sra. está falando?
Estou falando de ter uma
plataforma, em vez de evitar
ter um programa e ficar fazendo uma colagem de promessa atrás de promessa. Aí
não tem critério. O céu é o limite. "Não subiu o suficiente
[nas pesquisas]? Então vou
prometer mais, mais e mais".
Você tem que pensar no limite das contas públicas, na
possibilidade de implementar o que está dizendo. Não
estou fazendo o discurso fácil. Se ganhar, quero ganhar
ganhando, e se perder, quero
perder ganhando.
O que é perder ganhando?
É quando você sai do processo maior do que você entrou. E nem precisa ser maior
eleitoralmente, em quantidade de votos. Significa que você não vendeu seus princípios. Manteve uma atitude
digna, justa, inclusive na relação com os concorrentes.
Quando saí do Ministério
do Meio Ambiente, as pessoas disseram: "Poxa, a Marina saiu maior do que entrou". Naquele momento, parecia que eu tinha perdido a
batalha para o Mangabeira
[Unger], o [Reinhold] Stephanes, o Ivo Cassol. Aí eu disse:
a derrota ou a vitória se mede
na História. Eu me sinto vitoriosa hoje, porque o desmatamento segue caindo.
A subida de Dilma a surpreendeu? Imaginava que seria tão difícil enfrentá-la?
Nunca subestimei ninguém. Sempre soube da força que teria o partido [PT], o
presidente Lula. Mas a decisão é do cidadão.
Não é impossível vencer uma
candidata apoiada por um
governo tão popular?
O projeto pode continuar
com outro candidato. As pessoas precisam ter segurança
disso, e eu passo essa segurança pela minha origem, pela minha trajetória. Se foi
possível ao presidente Lula
manter os ganhos do Real,
porque não será possível a
mim manter o Bolsa Família?
O PV está aliado ao PSDB no
Rio, e agora seus candidatos
ao Senado fazem dobradinha
em São Paulo. Hoje, Serra é o
mais cotado para ir ao segundo turno. A sra. o apoiaria?
Segundo turno se discute
no segundo turno. Sinto que
a minha candidatura é o segundo turno viável.
Sua candidatura cresce entre
os mais ricos. Teme ser refém
de uma moda ecológica?
As pessoas mais simples
têm uma identificação natural quando conhecem minhas ideias, minha trajetória.
Há uma dificuldade sim,
de estrutura. É uma luta de
Davi contra Golias, se comparar as candidaturas. O que
me anima é que Davi ganhou
a luta com uma pedra, acertando a pedra no lugar certo.
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