São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2011

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ANÁLISE CONGRESSO

Senado é amistoso com presidente, mas teme desgaste político

Dilma tem maioria para aprovar qualquer coisa no Senado, mas reação de eleitores preocupa seus aliados


VOLTA DO IMPOSTO DO CHEQUE AJUDARIA OPOSIÇÃO A GRUDAR NO GOVERNO A IMAGEM DE UM LEÃO FAMINTO ATRÁS DO CONTRIBUINTE

VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA

O Senado com o qual Dilma Rousseff convive é muito mais amigável do que aquele com que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trabalhou. Mesmo assim, nada garante que a presidente conseguirá aquilo que seu mentor e predecessor perdeu ali.
Lula enfrentou no Senado alguns dos piores momentos de seu governo. Foi alvo até de ameaças de agressão física em discursos na tribuna e acabou traído na votação que derrubou a CPMF, em 2007.
Foram tantos percalços que Lula decidiu trabalhar para eleger um Senado mais amistoso para Dilma. Conseguiu, ajudando a derrotar senadores incômodos em seu governo, como os tucanos Arthur Virgílio e Tasso Jereissati e os demistas Heráclito Fortes e Marco Maciel.
O resultado dessa manobra está no painel da casa. Dilma tem hoje 55 votos na sua base de apoio, sem contar os sete senadores do PR, que se dizem independentes, mas não veem a hora de voltar para o lado do governo.
Ou seja, a presidente tem, teoricamente, maioria folgada para aprovar até uma emenda constitucional no Senado, onde são necessários pelo menos 49 dos 81 votos.
Só que essa maioria ainda não deu sinais de estar disposta a pagar o preço do desgaste político de ressuscitar a CPMF, recheando os cofres da presidente Dilma com recursos que podem alcançar os R$ 40 bilhões anuais.
O antigo imposto do cheque virou uma ideia amaldiçoada, bandeira fácil para a oposição grudar no governo a imagem de um leão faminto atrás da graninha do contribuinte. Em véspera de ano eleitoral, então, tudo fica mais potencializado.
O governo Dilma tentará levantar o discurso do bem maior em troca da garfada no bolso dos brasileiros: a necessidade de melhorar o precário setor da saúde pública, algo que seria possível apenas com a presença de uma nova fonte de recursos.
Por enquanto, porém, os senadores se mostram mais sensíveis a outro tipo de discurso, mais eleitoral. Eles preferem elevar os gastos da União com a saúde pública, sem a contrapartida de criar impostos para bancar a conta.
Conta que, a princípio, não fecha. O risco é tudo ficar como está. O Congresso fingir que aprova mais recursos para a saúde. O governo sem cumprir por alegar falta de verba. E o brasileiro seguir seu destino de sofrer nas filas de atendimento dos hospitais públicos.
Tudo indica que o destino da regulamentação da emenda 29, que define os gastos com a área da saúde, será dormir nas gavetas do Senado até que o clima político se torne mais favorável.


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