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ANÁLISE
Tucano faz crítica calculada para se opor a Dilma
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Ao contrário do que ocorreu quando falou atabalhoadamente contra o Mercosul,
o tucano José Serra não cometeu uma gafe ao criticar o
governo Evo Morales na Bolívia. Foi um ato calculado.
Certo ou errado, Serra seguiu uma estratégia de campanha e mirou tanto o eleitorado interno quanto o público internacional ao classificar o governo boliviano de
"cúmplice" do tráfico de cocaína no Brasil.
Passou do ponto, mas foi
uma contraposição à política
externa de Lula e aos regimes
"esquerdistas" da América
do Sul, como os de Morales e
de Rafael Correa (Equador) e
de Hugo Chávez (Venezuela).
Isso, aliás, não é novidade.
Em 2002, quando estava em
busca de eleitores refratários
à esquerda e perdeu a eleição
para Lula, Serra já considerava Chávez "um retrocesso",
como agora compara o iraniano Mahmoud Ahmadinejad a Hitler e Stálin.
Naquela eleição, a Embaixada da Venezuela reagiu à
"campanha sistemática" do
tucano contra Chávez. Desta
vez, é improvável que a da
Bolívia fique calada. O que
abre a seguinte questão: e se
Serra vencer, como serão as
relações com os vizinhos?
Serra, porém, não está raciocinando diplomaticamente, mas sim eleitoralmente.
Coloca-se ao lado do novo
presidente do Chile, o empresário de centro-direita Sebastián Piñera, e estimula a simpatia de Chávez e Morales
por Dilma Rousseff, do PT,
com tudo o que significam.
Muito diferente, portanto,
do escorregão ao expor sua
birra contra o Mercosul, que
considera "uma farsa" e
"barreira" para acordos comerciais bilaterais do Brasil.
É o que ele acha, mas candidatos raramente podem ou
devem dizer exatamente o
que acham. Tanto que, depois, tentou dar o dito pelo
não dito. Tarde demais. A Argentina, principal sócio no
Mercosul, chiou. De um em
um, o risco de Serra é virar
uma ilha na América do Sul.
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