São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2010

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ANÁLISE

Tucano faz crítica calculada para se opor a Dilma

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Ao contrário do que ocorreu quando falou atabalhoadamente contra o Mercosul, o tucano José Serra não cometeu uma gafe ao criticar o governo Evo Morales na Bolívia. Foi um ato calculado.
Certo ou errado, Serra seguiu uma estratégia de campanha e mirou tanto o eleitorado interno quanto o público internacional ao classificar o governo boliviano de "cúmplice" do tráfico de cocaína no Brasil.
Passou do ponto, mas foi uma contraposição à política externa de Lula e aos regimes "esquerdistas" da América do Sul, como os de Morales e de Rafael Correa (Equador) e de Hugo Chávez (Venezuela).
Isso, aliás, não é novidade. Em 2002, quando estava em busca de eleitores refratários à esquerda e perdeu a eleição para Lula, Serra já considerava Chávez "um retrocesso", como agora compara o iraniano Mahmoud Ahmadinejad a Hitler e Stálin.
Naquela eleição, a Embaixada da Venezuela reagiu à "campanha sistemática" do tucano contra Chávez. Desta vez, é improvável que a da Bolívia fique calada. O que abre a seguinte questão: e se Serra vencer, como serão as relações com os vizinhos?
Serra, porém, não está raciocinando diplomaticamente, mas sim eleitoralmente. Coloca-se ao lado do novo presidente do Chile, o empresário de centro-direita Sebastián Piñera, e estimula a simpatia de Chávez e Morales por Dilma Rousseff, do PT, com tudo o que significam.
Muito diferente, portanto, do escorregão ao expor sua birra contra o Mercosul, que considera "uma farsa" e "barreira" para acordos comerciais bilaterais do Brasil.
É o que ele acha, mas candidatos raramente podem ou devem dizer exatamente o que acham. Tanto que, depois, tentou dar o dito pelo não dito. Tarde demais. A Argentina, principal sócio no Mercosul, chiou. De um em um, o risco de Serra é virar uma ilha na América do Sul.


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