São Paulo, quarta-feira, 27 de julho de 2011

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ANÁLISE POLÍTICA ECONÔMICA

Juro é o dilema do BC diante da crise externa

Contenção da alta dos preços no ano passado teria ajudado governo a ter mais fôlego para enfrentar incertezas atuais

GOVERNO ASSISTE A ACONTECIMENTOS COMO ESPECTADOR TENSO; CRISE NÃO FOI CATÁSTROFE, MAS TAMBÉM NÃO FICOU NA MAROLA


ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

A economia mundial pode voltar a enfrentar uma crise severa, talvez até pior do que a de 2008. A maior parte das análises ainda mantém uma dose de incerteza. Mas ninguém parece duvidar que os riscos têm aumentado.
O governo brasileiro assiste aos desenvolvimentos lá de fora como um espectador tenso. A crise de 2008 não representou catástrofe para o país, mas tampouco ficou só na marola.
E, desde aquela época, estava claro que o mundo não voltaria tão cedo à boa forma dos tempos pré-crise. Economistas cansaram de repetir que os próximos anos seriam, na melhor das hipóteses, de crescimento medíocre no mundo desenvolvido. A hipótese de nova recessão foi muitas vezes aventada.
Ciente desse cenário, o que o governo brasileiro fez para se preparar?
As reservas internacionais -colchão de moeda estrangeira a ser usado na defesa do real em caso de saída maciça de recursos do país- continuaram crescendo.
Saltaram de US$ 206,5 bilhões em setembro de 2008, quando a falência do banco norte-americano Lehman Brothers tornou a crise evidente, para os atuais US$ 342,3 bilhões.
Esse é um indicador de boa munição. Mas sozinho não garante isolamento.
Em 2008, as reservas do país já eram substanciais. Mas foi preciso muito mais do que isso para evitar uma recessão mais brusca (a economia do país contraiu 0,6% em 2009). Na época, o governo inflou seus gastos para ajudar a sustentar a atividade econômica.
Mas a situação das contas públicas hoje é bem menos robusta. O superavit primário (economia que o governo faz para pagar juros) equivaleu a 2,84% do PIB (Produto Interno Bruto) neste primeiro semestre. No mesmo período de 2008, era de 4,41%.
O governo tem menos fôlego para injetar recursos na economia. Se tivesse feito um ajuste fiscal em 2010, talvez tivesse mais folga agora.
Outro problema é a inflação alta. Continuar subindo juros ou não? É o dilema que o BC enfrenta diante de pressões inflacionárias que persistem, mas em cenário de possível crise externa.
Se tivesse contido a alta de preços ainda em 2010, haveria mais espaço agora para cortar juros rapidamente se as condições no exterior se deteriorarem mais.
Resumindo: se o governo tivesse aceitado uma expansão mais modesta em 2010, agindo para melhorar a saúde das contas públicas e manter a inflação baixa, o país teria mais munição para enfrentar uma possível nova crise agora. Mas havia eleições no meio do caminho.


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