São Paulo, sábado, 27 de agosto de 2011

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Petistas disputam "paternidade" de CEUs

Afirmação de Haddad, de que idealizou modelo de escolas, provoca reação de ex-assessores de Marta Suplicy

Em livro sobre a sua gestão, ex-prefeita cita a participação de várias pessoas no projeto, mas não menciona ministro

VERA MAGALHÃES
DE SÃO PAULO

A "paternidade" dos CEUs (Centros Educacionais Unificados) na gestão de Marta Suplicy virou mais um ingrediente de disputa entre a ex-prefeita e o ministro Fernando Haddad (Educação), principais pré-candidatos do PT à Prefeitura de São Paulo.
O grupo de Marta não gostou da afirmação, feita por Haddad à Folha em entrevista para o perfil publicado na Ilustríssima do último domingo, de que coube a ele idealizar o modelo dos CEUs, uma das principais marcas da gestão da senadora.
Segundo Haddad, que foi chefe de gabinete da Secretaria de Finanças do governo Marta, a ideia teria surgido depois que ele, o secretário da pasta, João Sayad, e o titular da Habitação, Paulo Teixeira, sobrevoaram a periferia da cidade de helicóptero.
Eles teriam ficado "impactados" com a pobreza e, depois, Haddad teria sugerido ao secretário que implementassem escolas que dispusessem de equipamentos de cultura, esporte e lazer.
A versão foi confirmada pelos outros dois passageiros do helicóptero e pelo jornalista Eugênio Bucci, amigo do ministro e cujo irmão, o arquiteto Ângelo, teria indicado o projeto do arquiteto Alexandre Delijaicov.
"Ele [Haddad] concebeu os CEUs. Eu testemunhei seu entusiasmo com a proposta", disse Eugênio Bucci.
Segundo os "martistas", Haddad ignorou o fato de a discussão ser bem mais antiga e exagerou seu protagonismo nos estudos que levaram o projeto a sair do papel.
A Folha conversou nesta semana com quatro outros ex-secretários de Marta. A ex-prefeita, às voltas com a tentativa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de forçá-la a desistir de disputar novamente a prefeitura, evitou entrar na polêmica.
"Não dá para falar que os CEUs têm um pai ou uma mãe. Ele tem muitos tios e muitas tias", disse a ex-secretária de Educação Cida Perez, citada por esse grupo como a verdadeira responsável por tirar do papel as 21 escolas.
Ela e ex-colegas como os presidentes municipal e nacional do PT, Antonio Donato e Rui Falcão, contam a história da mesma forma.
A primeira vez que se pensou, no partido, num modelo que conjugasse esporte, cultura e lazer nas escolas da capital foi nas prévias para a prefeitura em 1996, quando Aloizio Mercadante propôs as "praças educacionais".
A base era o conceito de "escola-parque" desenvolvido pelo educador Anísio Teixeira na década de 50 e implementado em Brasília.
Quando Marta assumiu, retomou a discussão. Em seu livro "Minha Vida de Prefeita", ela cita a participação de várias pessoas no projeto, mas não menciona Haddad.
Cida Perez lembra que o então chefe de gabinete de Sayad fez parte do grupo que estudou os projetos. "Não soube dessa história do voo do helicóptero na época."

TAXA DO LIXO
O "DNA" dos CEUS é só uma das polêmicas a opor Marta e Haddad.
Partidários da senadora se queixam que o ministro exagera seu papel no saneamento financeiro da prefeitura.
Nos discursos nas caravanas com pré-candidatos, Haddad tem dito que graças a essa ação Marta teve recursos para programas sociais.
"O que ele não fala é sobre o papel que a Secretaria de Finanças teve na concepção das famigeradas taxas", diz um ex-assessor da senadora.
O projeto de um Sistema de Limpeza Público, aprovado em 2002, estabelecia três taxas de limpeza na cidade.
Foi principal fonte de desgaste de Marta -que foi apelidada de "Martaxa"- e um dos fatores apontados para sua derrota em 2004.


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