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FOCO
Ex-deputado tenta se livrar da fama de o "homem que demitiu Dilma" no RS
Valdir Fraga foi chefe da presidenciável petista na Câmara de Porto Alegre no final dos anos 80; ele diz que votará em Dilma
PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Dilma Rousseff é um prego
no sapato do ex-vereador e
ex-deputado estadual Valdir
Fraga, que se capitalizou na
disputa pela Prefeitura de
Porto Alegre em 1992, à época candidato pelo PTB, por
ter sido o homem que demitiu Dilma - já com a fama local de durona por ter sido a
secretária da Fazenda na cidade entre 1986 e 1988.
Seu adversário em 92 era
Carlos Araújo (PDT), segundo marido de Dilma. Passados 21 anos, Fraga é hoje assessor da prefeitura e apoia a
petista a presidente. Mas o
prego continua a incomodar.
Em 1989, quando assumiu
a presidência da Câmara Municipal, Fraga convidou Dilma para ser a diretora-geral
da casa, a gestora dos funcionários do Legislativo. Estava
no PDT assim como Dilma e
Araújo. Não ficariam unidos
por muito tempo.
A versão repetida nos bastidores políticos de Porto Alegre é que certo dia Fraga encontrou um operário que trabalhava na reforma do prédio da Câmara sentado à toa,
às 8h30. Perguntou ao operário por que ele não estava trabalhando. "Não tem prego",
respondeu.
O presidente da Câmara
procurou a direção geral da
Câmara, mas ninguém havia
chegado ao escritório. Às
9h30, o operário continuava
sem trabalhar porque a cúpula não começara a trabalhar e assim não havia como
comprar pregos para que a
obra seguisse.
A partir daquele dia, Fraga
pegou o livro de ponto e o levou para sua sala para saber
a hora que os funcionários da
direção geral estavam chegando. Após esse ato, Dilma
saiu em férias e depois se
afastou do cargo de diretora-geral da Câmara.
Os aliados de Fraga dizem
que ele demitiu Dilma; os dela afirmam que a hoje candidata a Presidente saiu para
engajar-se na campanha de
Carlos Araujo a deputado federal em 1990. Os adversários de Dilma dizem que ela
foi demitida por não trabalhar; os aliados afirmam que
ela reorganizou a estrutura
funcional do Legislativo.
Dilma continuou no PDT
até 2000, quando filiou-se ao
PT. Fraga foi para o PTB
-partido pelo qual tentou
duas vezes ser prefeito de
Porto Alegre. Durante duas
décadas, apontado como
maior inimigo de Dilma, Fraga se beneficiou do discurso
de homem que a demitiu.
Hoje ameniza a história.
"Seria natural que saísse para trabalhar na campanha do
marido", afirma. Elogia a capacidade técnica de Dilma.
"Mas fiquei surpreso quando
Lula a indicou como candidata a presidente", admite.
Sente-se incomodado com
a volta da polêmica do prego
e sobre a consequente demissão de Dilma. "O pessoal exagera", contemporiza.
EMBATES
Na campanha pela prefeitura de Porto Alegre em 92,
Fraga ficou em quarto lugar,
obteve 54 mil votos (8% dos
válidos). Foi batido pelo então marido de Dilma, que
chegou a 86 mil votos (14%),
o que deixou em terceiro na
disputa. Os dois ficaram bem
distantes de Tarso Genro
(PT), com 307 mil votos
(48%), e de Cezar Schirmer
(PMDB), com 120 mil (19%).
Tarso conquistou a prefeitura no segundo turno.
Sentado na assessoria técnica da Prefeitura de Porto
Alegre, Fraga acompanha
hoje a ascensão de Dilma.
"Deslanchou, né?" A desavença e a saída do PDT os
afastaram para sempre. E,
Fraga, de liderança ambiciosa, viu-se encolhendo como
personagem político.
Tentou ser de novo candidato a prefeito em 1996, mas
atingiu metade dos votos do
pleito anterior, 24 mil, o penúltimo entre 11 candidatos.
Como havia sido eleito deputado estadual em 1994, a
derrota não parecia tão impactante. Mas não concluiu o
mandato de deputado estadual.
Foi condenado a dois anos
e seis meses de reclusão em
regime aberto -pena substituída por prestação de serviços à comunidade- por ter
cobrado R$ 1.500 do salário
de seu assessor parlamentar
José Divino Nunes da Silva,
por sete meses seguidos, em
1997.
Em sua defesa, Fraga alegou que recolhimento do dinheiro tinha origem em parcelas de empréstimo que teria feito ao assessor, no valor
de R$ 15 mil.
"Competia ao acusado a
prova de ter emprestado dinheiro à vítima", afirmou o
juiz Paulo Roberto Lessa
Franz, que cuidou do processo em segunda instância.
"Todavia, não há contrato escrito. Aliás, fato de causar estranheza, considerando a
elevada soma", anotou.
Fazendo atualmente o papel de interlocutor da prefeitura com os vereadores, Fraga está no PMDB, partido que
no Rio Grande do Sul aderiu
a linha de "neutralidade radical" na disputa presidencial. A bancada dos deputados federais queria apoiar
Serra; os prefeitos, Dilma.
Fraga não quer saber de neutralidade e anuncia o apoio a
petista. "Para não ficarem
martelando essa história."
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