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Saúde eleitoral
"Vitrines" de Serra e Dilma na área têm realidades diferentes da propaganda na TV
Trunfos eleitorais de José Serra (PSDB) e Dilma
Rousseff (PT), os AMEs (clínicas com médicos especialistas) e as UPAs (prontos-socorros) não funcionam
tão bem quanto suas propagandas mostram.
Em SP, em alguns AMEs faltam profissionais -há
dificuldade para encontrar médicos especialistas no
interior. Em outros, sobram vagas -diante da ociosidade, alguns AMEs resolveram ampliar a região de cobertura planejada.
No Rio, as UPAs estão abarrotadas. Têm fila até para
entrar. Os pacientes precisam esperar do lado de fora,
ao ar livre. Não há nem sequer senha.
VITRINE DE DILMA
Unidades enaltecidas por petista têm fila para entrar na fila no Rio
HUDSON CORRÊA
DO RIO
Colocadas na vitrine das
propostas de Dilma Rousseff
(PT) para a área de saúde,
nem todas as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento)
24 horas são "uma coisa limpa", onde não "tem fila de espera", como disse o presidente Lula ao inaugurar uma
unidade em Nova Iguaçu, na
Baixada Fluminense, no final de agosto.
Quem procura a UPA da
Penha, zona norte do Rio, administrada pelo governo estadual, é informado que deverá aguardar do lado de fora
da unidade. Lá, 30 cadeiras
colocadas em um terreno de
areia servem de "sala de espera" para os pacientes.
A reportagem esteve no local no dia 14 passado. Uma
galinha ciscava entre os pés
das pessoas que aguardavam
atendimento. Não havia distribuição de senhas. O recém-chegado precisava perguntar quem era o último da
fila e se entender com eles.
Ao menos dez pessoas estavam em pé, pois faltavam
assentos sob o toldo branco.
Alguns aguardavam acomodados ao pé de árvores ou em
dois bancos de madeira.
Três dias depois, a reportagem voltou à UPA e encontrou Janaina Larissa Santana, 17, sentada em um banco
de madeira com seu bebê de
quatro meses no colo. Eram
10h, e Janaina contou que
havia chegado ao local à
meia-noite com o filho com
39 graus de febre.
Voltadas para o atendimento de casos de emergência, as UPAs foram criadas no
Rio pelo governador Sérgio
Cabral (PMDB) em 2007.
Adotadas como projeto nacional na área de saúde, o governo federal passou a liberar dinheiro para novas construções pelo Brasil.
O governo quer construir
500 unidades (ao custo de R$
1 bi) até o fim do ano. A administração deve ficar com governos ou prefeituras. Mas
Lula está longe do objetivo.
Até quinta-feira passada, 84
UPAs haviam sido inauguradas em todo o país. Dilma, se
eleita, assumiria o compromisso de atingir a meta.
Ao inaugurar a unidade de
Nova Iguaçu, Lula afirmou
que, além de não ter fila, nas
UPAs a "pessoa é tratada pela gravidade da doença".
A reportagem também esteve na UPA de Irajá. Zélia
Barroso, 57, disse que chegou
às 8h ao local e chorava indicando dor nas costas.
"Ela não chegou a ser
atendida. Foi atendida na
classificação de risco às
8h57, mas, quando foi chamada, às 10h10, não estava
mais na unidade, tinha deixado o local", informou a secretaria. A Folha fez foto dela
chorando de dor. Eram 14h.
Sobre as filas nas UPAs, a
secretaria estadual de Saúde
informou que "os pacientes
que necessitam de atendimento mais simples (...) acabam realmente esperando
um pouco mais". Afirmou
ainda que "paciente nenhum
deixa de ser atendido".
VITRINE DE SERRA
Faltam médicos e sobram vagas em rede divulgada por tucano
RICARDO WESTIN
DE SÃO PAULO
Nos 34 AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades) de São Paulo, bandeira
eleitoral de José Serra (PSDB)
na saúde, não se veem filas
nem salas de espera abarrotadas. Os doentes só chegam
com hora marcada.
Essas policlínicas oferecem consultas com cardiologistas, neurologistas, oftalmologistas e outros médicos
especializados. E realizam
exames de diagnóstico que
vão além do raio-X básico,
como ressonância, endoscopia e eletroneuromiografia.
Em algumas cidades, os
AMEs também fazem pequenas cirurgias -de hérnia ou
catarata, por exemplo.
Os AMEs têm no máximo
três anos. Estão, portanto,
novinhos. Pintura impecável
e ar-condicionado em ordem.
Eis, por fim, o SUS (Sistema Único de Saúde) funcionando às mil maravilhas?
Não chega a tanto, dizem secretários de Saúde de municípios atendidos por AMEs.
Eles, que falaram à Folha
sob a condição de não serem
identificados, reconhecem
que as policlínicas de Serra
ajudam a aliviar a carência
de médicos especialistas no
SUS e a desafogar os centros
cirúrgicos dos hospitais.
No entanto, apontam uma
falha: falta sintonia com o
restante da rede pública.
Os casos da costureira Lídia Prata Batista, 56, e do pedreiro Antônio Pereira da Silva, 58, ilustram o que os secretários querem dizer.
A Folha encontrou os dois
pacientes no AME Heliópolis, na zona sul de São Paulo.
A costureira, que é de Mairiporã e será operada da vesícula, fez todos os exames no
AME. Como aquele ambulatório não realiza a cirurgia,
foi encaminhada dali para
um hospital público. A operação será em junho de 2011.
Já o pedreiro, que mora no
Guarujá, fazia exames de
próstata. Tem um tumor. Antes de chegar ao AME, havia
sido transferido de posto de
saúde em posto de saúde. O
jogo de empurra atrasou o
diagnóstico em um ano.
"O Estado deveria investir
não só nos AMEs, mas também ajudar as redes municipais de saúde para que ofereçam a retaguarda adequada
para os AMES", afirma um
dos secretários de Saúde.
Outro problema decorrente da falta de sintonia com os
municípios é a ociosidade
em alguns AMEs.
Os secretários dizem que
houve pouco diálogo com os
municípios e que, por isso, as
demandas de cada local foram mal calculadas pelo Estado.
A Secretaria de Estado da
Saúde diz que há parceria
com os municípios tanto na
definição de especialidades
como na identificação das
demandas regionais.
Os 34 AMEs são administrados por entidades privadas sem fins lucrativos. Elas
recebem dinheiro dos cofres
estaduais para manter os serviços em funcionamento.
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