São Paulo, terça-feira, 27 de setembro de 2011

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JANIO DE FREITAS

Sem de, não da


Da Comissão da Verdade não se exige mais do que uma comissão de verdade, que não se preste a farsas


As discussões suscitadas pela aprovação, na Câmara, da Comissão da Verdade giram, sobretudo, em torno do número de seus integrantes, do proposto impedimento a ex-militantes de integrá-la e de sua vigência restrita a dois anos. Mas o fator decisivo não está aí.
Os sete integrantes previstos tanto podem ser suficientes como não. Dependerá de suas qualidades pessoais, dos recursos humanos e instrumentais de que disponham e, base de tudo, da representatividade institucional que lhes seja conferida e à sua missão.
ACM Neto deve ter razões não explicitadas para preocupar-se com a possibilidade de algum vitimado da ditadura, direto ou indireto, integrar a comissão.
Em princípio, não há motivo para repelir a proposta adotada pelo DEM, com uma condição inabalável: a esse impedimento tem que corresponder o de militares da ativa, da reserva ou reformados, e aliados explícitos ou subentendidos da ditadura.
Dois anos para investigar as violações a direitos humanos desde o fim da ditadura de Getúlio parecem brincadeira, mas foi um artifício para restringir a atividade que é a razão de ser da comissão.
Ficou uma brecha, porém. Os artificiosos não cuidaram de determinar ordem cronológica na coleta das informações esperadas.
À comissão bastará designar assessores para o trabalho sobre o passado distante, enquanto outra e principal atividade se concentra no que os atuantes da ditadura e seus atuais seguidores querem escondido para sempre.
Desde o governo Fernando Henrique, foram adotadas numerosas iniciativas com a finalidade declarada de levantar as verdades mais autênticas da ditadura militar e respectivas autorias, tanto por execução como por mando e cobertura. Frustradas todas.
Só para a procura dos assassinados do Araguaia criaram-se sucessivas missões e comissões no governo Lula, reduzidas à inutilidade por interferência militar.
A condição para que afinal se encerre o predomínio do cinismo, sob o qual prosperam todas as outras impunidades, não exige que a Comissão da Verdade seja mais do que isto: uma comissão de verdade, que não se preste a farsas nem se dobre por temores seus ou alheios. Disso já vimos o bastante.

OUTONO LÁ
Do alto dos saltos altos de seus sapatos, a derrota que Nicolas Sarkozy vê despejar-se sobre sua pretendida reeleição é mais do que uma vitória da "esquerda" sem ocorrência, em eleições para o Senado da França, desde 1958. Em pleno e múltiplo outono europeu, é como o início da Primavera Francesa.


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