São Paulo, sexta-feira, 28 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

Fora do bla-bla-blá


O sarcasmo sugestivo de Serra contribui como aceno programático na pobreza convencional do bla-bla-blá


A ACUSAÇÃO de José Serra ao governo da Bolívia, dando-o como "cúmplice" na remessa de "80% a 90% da cocaína consumida no Brasil", tem um sentido velado sob seus componentes diplomático e policial. Nem está na acusação, propriamente. Fluiu da maneira como José Serra a construiu, tornando-a sugestiva de algo que pareceu vir fora da hora.
Sem mencionar o presidente boliviano, Evo Morales, Serra no entanto dirigiu-lhe a acusação. E o fez de um modo sarcástico que não passaria, nunca, apenas por má construção verbal: "Mas 80% a 90% da cocaína vêm da Bolívia, com quem o governo amigo que se fala muito... e etc...". A ironia contou ainda com o capricho na inflexão.
A cocaína levou à evidência da ideia que Serra faz do governo boliviano e do seu presidente, com quem Lula fala muito. Logo, proporcionou a sugestão de que suas metas presidenciais incluiriam mudança substancial nas relações com a Bolívia de Evo Morales. O que, por sua vez, não teria como ocorrer isoladamente, mas como parte de uma política brasileira com a América do Sul. Ou seja, com reflexos nas relações também entre Brasil e Paraguai, Equador, Venezuela, Uruguai e Argentina. Além do Mercosul já desprezado por Serra.
O sarcasmo sugestivo, ainda que não venha a passar disso, contribuiu como primeiro aceno programático na pobreza convencional do bla-bla-blá que Serra e Dilma Rousseff mantêm. Corrijo: fiel a outro convencionalismo, Serra já prometeu a criação de mais um ministério -o da Segurança. Mas, como pode haver boa segurança sem ministério e má segurança com ministério, fora do ramerrão dos dois fica mesmo a sugestiva mensagem implícita na acusação à Bolívia de Evo Morales, e só.

OBRIGADO
Aécio Neves fez uma gentileza às senhoras e aos senhores ouvintes e leitores de jornal. Fez também, na mesma atitude, uma perversidade com os jornalistas que, muito mais do que o comando do PSDB, multiplicaram expectativas e apelos a Aécio para curvar-se à vice-presidência de José Serra. O ponto final (sic) posto por Aécio Neves nessa lenga-lenga jornalística é, antes de tudo, motivo de agradecimento.
A reafirmação de Aécio foi acompanhada de um comentário de Itamar Franco tendente a ser outro ingrediente de especulação. Há algum tempo, o ex-presidente é citado, fora da imprensa, como solução alternativa para a chapa de Serra, no caso de um forte desempenho em Minas mostrar-se decisivo para dar-lhe condições de êxito.
O comentário de Itamar Franco foi de crítica, pelos elogios de Serra a Lula, porém seguida da ressalva de que votará nele por disciplina partidária. Seu partido é o PPS, aliado do PSDB. É notório que Itamar e Serra não se apreciam. Mas Itamar e Collor não se apreciavam. O novo nome já entrado nas especulações, aliás, está na mesma: é também notório que Serra e Tasso Jereissati estão muito longe de se apreciarem.
Então, amizades e apreços não devem impedir especulações, como não impedirão a difícil escolha de um vice para Serra.


Texto Anterior: Análise: Sem plano B, PSDB corre para encontrar um vice em 15 dias
Próximo Texto: Presidente 40/Eleições 2010: Candidatos têm promessa igual para saúde
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.