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Violação não teve objetivo político, afirma Receita
Em tentativa de despolitizar o caso, cúpula diz que havia "balcão de negócios"
Investigação sobre o vazamento de dados sigilosos de pessoas ligadas a Serra não deve
acabar antes do 1º turno
LEONARDO SOUZA
MÁRIO SÉRGIO LIMA
DE BRASÍLIA
O secretário da Receita,
Otacílio Cartaxo, e o corregedor-geral do órgão, Antônio
Carlos D'Ávila, tentaram ontem despolitizar a quebra dos
dados fiscais de quatro pessoas ligadas ao candidato do
PSDB à Presidência, José Serra, e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
De acordo com os dirigentes do fisco, a violação do sigilo dos tucanos ocorreu a
partir de um esquema criminoso mais amplo de compra
e venda de informações que
funcionava dentro da agência da Receita em Mauá (SP).
"Realmente esse fato preocupa [a quebra dos dados das
pessoas ligadas a Serra].
Mas, se nós analisarmos todos os acessos feitos na agência, verificamos que foram
indistintamente realizados.
Não acredito que tenha havido fins específicos de natureza político-partidária", disse
Cartaxo, em entrevista para
explicar o caso.
Conforme a Folha revelou,
os dados do vice-presidente
tucano, Eduardo Jorge, estavam em um dossiê feito pela
chamada "equipe de inteligência" da campanha de Dilma Rousseff (PT). Os outros
alvos da quebra tiveram seus
nomes citados em outro dossiê do mesmo grupo.
Segundo o corregedor do
órgão, foram levantados indícios de que um intermediário de fora da Receita encomendava dados sigilosos de
contribuintes diversos a duas
servidoras de Mauá, mediante "pagamento de propina".
D'Ávila não informou
quem seria o intermediário.
"Nas investigações, que poderão ser ratificadas pela Polícia Federal, há indícios de
um balcão de compra e venda de dados sigilosos", disse.
Já Cartaxo afirmou que o
episódio "não só nos deixa
extremamente constrangidos como instituição mas
também traumatizados".
Em outubro do ano passado, foram acessados e impressos irregularmente declarações do Imposto de Renda de Eduardo Jorge, do ex-ministro de FHC Luiz Carlos
Mendonça de Barros, do ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio e de Gregorio
Marin Preciado, casado com
uma prima de Serra.
Além desses casos, a corregedoria listou outros 320
acessos a informações de
contribuintes realizados na
agência de Mauá entre agosto e dezembro do ano passado, incluindo dados da apresentadora de TV Ana Maria
Braga e de empresários. Não
se sabe quantos desses acessos foram irregulares.
"PURA ENROLAÇÃO"
"Essa investigação da Receita é pura enrolação. Eu tenho cópia de todo o procedimento da corregedoria. Não
há nem uma menção sequer
à venda de dados. Por que o
secretário Cartaxo vem a público agora falar sobre essa
hipótese? Ele está protegendo o PT", afirmou EJ.
O corregedor disse que na
segunda-feira a comissão de
inquérito encarregada do caso vai entregar ao Ministério
Público Federal representação criminal recomendando o
indiciamento da analista fiscal Antonia Aparecida Neves
Silva e da funcionária do Serpro cedida ao fisco Adeildda
Ferreira dos Santos.
Todos os acessos irregulares ocorreram no computador
de Adeildda, mas a partir da
senha de Antonia. As representações são por violação do
sigilo funcional.
O corregedor do fisco ressaltou que as representações
encerram apenas a primeira
parte da investigação. Segundo ele, não será possível concluir a apuração num prazo
inferior a 60 dias, ou seja, antes do primeiro turno.
"Não estamos preocupados com o calendário eleitoral", disse Cartaxo.
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