São Paulo, terça-feira, 28 de setembro de 2010

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ANÁLISE

Quanto menos regras tem um debate, melhor para as ideias dos candidatos

PLÍNIO FRAGA
DO RIO

Quanto menos engessado melhor se torna um debate. As regras rígidas que os consultores de marketing e assessores políticos impõem são muletas a sustentar candidatos, em geral, gaguejantes, mal preparados e/ou sem propostas.
Quanto maior a possibilidade de ações e declarações que saiam do script previsto por marqueteiros maior a chance de um debate na TV de trazer à tona informações políticas e características de personalidades relevantes para o eleitor.
Apesar de persegui-lo continuamente, a Record, para o bem e para o mal, está muito distante do "padrão Globo de qualidade" -uma invenção de Boni, quando comandava a emissora do Jardim Botânico, que produziu muito artificialismo em nome de uma estética limpa.
No debate de anteontem, o cronômetro dos candidatos falhou por diversas vezes e o corte de câmera também.
Pecados técnicos compensados por reações espontâneas como a de não interromper abruptamente o som quando o tempo de resposta se esgotava, o que provocou simpática tolerância para que os candidatos concluíssem seu raciocínio.
A regra que fazia com que um candidato comentasse a resposta de outro dada a questionamento de jornalistas foi uma novidade.

PERGUNTAS INCÔMODAS
O tucano José Serra queixou-se das perguntas dirigidas a ele, certamente incômodas: ausência de FHC em sua campanha e declaração do ex-presidente reconhecendo sua derrota; ter cogitado como vice José Roberto Arruda, ex-governador do Distrito Federal derrubado pelo mensalão do DEM; ter disseminado o medo em 2002 e agora.
A petista Dilma Rousseff teve de responder sobre os escândalos na Casa Civil, superdimensionamento de resultados de projeto habitacional do governo e a cobertura eleitoral da imprensa.
Ou seja, temas menos ácidos do que os enfrentados pelo tucano, o que alimentou teorias conspiratórias já que a Igreja Universal, que controla a Record, apoia o governo Lula.
O debate de anteontem forçou levemente camisas de força impostas a outros eventos do gênero. Por exemplo, não houve restrição para que fosse exibida imagem de um candidato enquanto lhe é dirigida uma pergunta por um adversário.

TELA DIVIDIDA
Normalmente, os assessores exigem que a câmera fique fechada em quem fala, impedindo que capte reações de desconforto, surpresa ou atordoamento de quem é questionado.
Assim, no debate de domingo à noite, a televisão exibia uns que consultavam papéis, outros que colocavam e tiravam os óculos, sentavam-se e levantavam-se, movimentavam-se impacientemente.
Não estavam protegidos da câmera e foi possível notar substancial diferença nessas reações quando comparadas ao momento em que era disparado o cronômetro sob a câmera que, sem sucesso, delimita o tempo de uma resposta em que o candidato está exposto na tela.
Em suma, os debates serão mais efetivos quando tiverem menos regras e mais ideias.


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