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ANÁLISE
Quanto menos regras tem um debate, melhor para as ideias dos candidatos
PLÍNIO FRAGA
DO RIO
Quanto menos engessado
melhor se torna um debate.
As regras rígidas que os consultores de marketing e assessores políticos impõem
são muletas a sustentar candidatos, em geral, gaguejantes, mal preparados e/ou sem
propostas.
Quanto maior a possibilidade de ações e declarações
que saiam do script previsto
por marqueteiros maior a
chance de um debate na TV
de trazer à tona informações
políticas e características de
personalidades relevantes
para o eleitor.
Apesar de persegui-lo continuamente, a Record, para o
bem e para o mal, está muito
distante do "padrão Globo de
qualidade" -uma invenção
de Boni, quando comandava
a emissora do Jardim Botânico, que produziu muito artificialismo em nome de uma estética limpa.
No debate de anteontem, o
cronômetro dos candidatos
falhou por diversas vezes e o
corte de câmera também.
Pecados técnicos compensados por reações espontâneas como a de não interromper abruptamente o som
quando o tempo de resposta
se esgotava, o que provocou
simpática tolerância para
que os candidatos concluíssem seu raciocínio.
A regra que fazia com que
um candidato comentasse a
resposta de outro dada a
questionamento de jornalistas foi uma novidade.
PERGUNTAS INCÔMODAS
O tucano José Serra queixou-se das perguntas dirigidas a ele, certamente incômodas: ausência de FHC em
sua campanha e declaração
do ex-presidente reconhecendo sua derrota; ter cogitado como vice José Roberto
Arruda, ex-governador do
Distrito Federal derrubado
pelo mensalão do DEM; ter
disseminado o medo em
2002 e agora.
A petista Dilma Rousseff
teve de responder sobre os
escândalos na Casa Civil, superdimensionamento de resultados de projeto habitacional do governo e a cobertura eleitoral da imprensa.
Ou seja, temas menos ácidos do que os enfrentados
pelo tucano, o que alimentou
teorias conspiratórias já que
a Igreja Universal, que controla a Record, apoia o governo Lula.
O debate de anteontem
forçou levemente camisas de
força impostas a outros eventos do gênero. Por exemplo,
não houve restrição para que
fosse exibida imagem de um
candidato enquanto lhe é dirigida uma pergunta por um
adversário.
TELA DIVIDIDA
Normalmente, os assessores exigem que a câmera fique fechada em quem fala,
impedindo que capte reações
de desconforto, surpresa ou
atordoamento de quem é
questionado.
Assim, no debate de domingo à noite, a televisão
exibia uns que consultavam
papéis, outros que colocavam e tiravam os óculos, sentavam-se e levantavam-se,
movimentavam-se impacientemente.
Não estavam protegidos
da câmera e foi possível notar substancial diferença
nessas reações quando comparadas ao momento em que
era disparado o cronômetro
sob a câmera que, sem sucesso, delimita o tempo de uma
resposta em que o candidato
está exposto na tela.
Em suma, os debates serão
mais efetivos quando tiverem menos regras e mais
ideias.
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