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PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010
Cresce apoio ao voto facultativo no país
Hoje 48% são a favor e 48% são contra a obrigatoriedade, diz Datafolha; diferença era de dez pontos em 2008
Fabiano Santos, do Iuperj, defende modelo atual; David Fleischer, da UnB, é favorável
ao voto facultativo
UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO
O voto obrigatório divide o
eleitorado brasileiro. Segundo pesquisa Datafolha, 48%
dos entrevistados são favoráveis e 48% são contrários à
obrigatoriedade de votar.
Os números da pesquisa,
realizada entre os dias 20 e 21
de maio, mostram mudança
de direção na rota crescente
de apoio ao voto obrigatório.
O levantamento anterior, de
dezembro de 2008, registrara
o recorde de 53% de eleitores
favoráveis à obrigatoriedade
e 43% contrários a ela.
Estabelecida no artigo 14
da Constituição Federal, a
obrigação atinge os brasileiros alfabetizados que têm entre 18 e 70 anos de idade. Para os analfabetos, os maiores
de 70 e os que têm entre 16 e
18 anos, o voto é facultativo.
Segundo relatório do Instituto Internacional para Democracia e Assistência Eleitoral, com sede na Suécia,
apenas 30 países mantêm
hoje em dia voto obrigatório
nas eleições nacionais.
Se o voto não fosse obrigatório no Brasil, 55% dos entrevistados afirmam que votariam, contra 44% que optariam por não votar.
Os mais ricos (62% acima
de dez salários mínimos e
66% entre cinco e dez) e os
mais escolarizados (65%) são
os que mais iriam às urnas se
o voto fosse facultativo, e os
mais pobres (52%) e os menos escolarizados (52%) são
os que menos votariam.
Por outro lado, os mais ricos (59%) e os mais escolarizados (59%) são os mais favoráveis ao voto facultativo,
e os mais pobres (52%) e os
menos escolarizados (52%)
são os mais favoráveis à obrigatoriedade de votar.
ESPECIALISTAS
Para o cientista político
Fabiano Santos, professor do
Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) e favorável ao voto
obrigatório no Brasil, o Datafolha confirma a teoria.
"O voto facultativo não é
neutro do ponto de vista de
quem deixa de votar. São as
pessoas menos favorecidas
que se afastam das urnas. Há
uma exclusão das camadas
mais pobres, mas deve haver
pluralidade nas eleições."
David Fleischer, professor
emérito de ciência política da
Universidade de Brasília e
contrário à obrigatoriedade,
discorda dessa tese. Para ele,
o voto facultativo pode melhorar a qualidade do pleito.
"Se não fosse obrigação, o
voto seria mais pensado. Hoje em dia, o cidadão que vai
às urnas acaba votando em
uma pessoa cujas propostas
nem conhece. Só vota porque
é um dever, e não porque
pensou naquele voto."
Além disso, diz Fleischer,
"é fundamental encarar o voto não como um dever, mas
como um direito que o cidadão pode exercer se quiser".
Para Santos, porém, "a
participação política é tão
importante nas democracias
que o voto deve, sim, ser visto como um dever".
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