São Paulo, sábado, 29 de maio de 2010

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Historiador rejeita tese de conspiração contra João Goulart

Luiz Alberto Moniz Bandeira diz que família de Jango endossou suspeita para tentar indenização dos EUA

Para Moniz Bandeira, não há dúvida de que a morte foi por infarto; procurados, familiares não ligaram de volta

BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO

Após investigar por dois anos a morte do ex-presidente João Goulart (1918-1976), o historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira afirma ser "charlatanice" a tese de que ele teria sido assassinado por agentes uruguaios a mando da ditadura brasileira.
Ele acusa a família de Jango de endossar a suspeita na tentativa de obter indenização dos Estados Unidos pelo apoio ao golpe de 1964.
"Isso só interessa à família, por motivos financeiros, e a alguns segmentos que pretendem fazer exploração política do caso", afirma.
A tese sobre o suposto assassinato de Jango é analisada num apêndice inédito ao livro "O Governo João Goulart", de Moniz Bandeira. A Folha teve acesso à obra, que volta às livrarias em junho pela editora Unesp.
Companheiro do ex-presidente no exílio, o professor aposentado da UnB contesta o relato do uruguaio Mario Neira Barreiro, que diz ter participado de uma operação para envenenar o ex-presidente no hotel em que ele vivia, em Buenos Aires.
O historiador afirma não ter dúvidas de que Jango morreu de infarto, devido a seu histórico de doenças cardíacas e à falta de cuidado com a saúde.
"Somente quem não raciocina e carece de um mínimo de conhecimento pode considerar seriamente a história de conspiração contada pelo delinquente Neira Barreiro", afirma ele no livro.

"FARSA"
Preso no Rio Grande do Sul por crimes comuns (tráfico de armas, roubo de carro-forte e falsidade ideológica), o uruguaio sustenta a versão de que o serviço secreto de seu país adulterou remédios para matar Jango e evitar sua volta ao Brasil.
Ele fez o relato à Folha, em janeiro de 2008, e à Polícia Federal, em depoimento tomado por ordem do ex-ministro Tarso Genro (Justiça).
Segundo Moniz Bandeira, a tese da troca de remédios é uma "farsa" e carece de provas. Ele afirma que o corpo não foi submetido a autópsia por decisão da família, e não por veto da ditadura.
Pesquisando os arquivos do caso, o historiador recuperou entrevista em que a viúva do ex-presidente, Maria Thereza Goulart, afirmou não ter dúvidas sobre a causa da morte do marido.
A declaração foi dada em 1982, quando o ex-governador Leonel Brizola defendeu a exumação do corpo de Jango após a divulgação de outra suspeita de assassinato.
Apesar de contestar a tese de homicídio, Moniz Bandeira faz uma defesa enfática de seu governo e da decisão de não resistir ao golpe de 1964: "Ele não resistiu porque não havia condições de vencer".
A Folha procurou a família de Jango por meio do Instituto João Goulart, presidido por seu filho João Vicente, mas não obteve resposta.


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