|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Temer omite de declaração ao TSE imóvel de R$ 2,2 mi
Vice de Dilma diz que omissão na eleição de 2006 se deve a "erro de digitação'
Presidente da Câmara havia atribuído variação patrimonial de 118% em quatro anos a honorário recebido como advogado
RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA
Vice na chapa da presidenciável petista Dilma
Rousseff, Michel Temer
(PMDB-SP) omitiu um imóvel
de R$ 2,2 milhões na declaração de bens que entregou à
Justiça Eleitoral no ato de registro de sua candidatura,
nas eleições de 2006.
A omissão foi reconhecida
por Temer quando a Folha
buscou detalhes de uma explicação que ele havia dado a
jornalistas sobre a evolução
de seu patrimônio nos últimos quatro anos.
Em julho, assim que Temer entregou sua relação de
bens ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a imprensa notou que o patrimônio do deputado e presidente da Câmara havia crescido 118,8%
entre 2006 e 2010, em valores
já corrigidos pelo IPCA.
O patrimônio passou de R$
2,29 milhões, em 2006, para
R$ 6,05 milhões, em 2010.
Procurado então por jornalistas, o deputado distribuiu, por meio de sua assessoria, uma informação que
agora se revela inverídica.
Na ocasião, assessores do
deputado afirmaram que o
crescimento se devia ao recebimento de honorários advocatícios relacionados a uma
causa que Temer, como advogado, havia conduzido
ainda nos anos 70.
A explicação foi divulgada
pela imprensa e na internet
-incluindo a Folha, na edição de 6 de julho passado.
No dia 5, o portal da internet IG ressaltou a explicação
de Temer: "A assessoria ainda disse que a evolução patrimonial de Temer se deu devido a honorários advocatícios
que ele recebeu de uma ação
da década de 1970 e que só
teve sua decisão final dada
recentemente".
Ao longo dos últimos 30
dias, a Folha quis saber de
Temer qual era o cliente da
causa milionária. A assessoria do deputado não dirimiu
a dúvida, mas reafirmou a
primeira versão sobre os honorários, que teriam sido recentemente recebidos.
A reportagem não encontrou, nos registros da Justiça
paulista, nenhuma causa milionária ganha por Temer e,
por isso, voltou a indagar a
assessoria. A dúvida não foi
esclarecida novamente.
Na última segunda-feira,
questionado em São Paulo, o
deputado apresentou uma
nova versão que desmente
explicação dos honorários.
Ele disse que, por um "erro
de digitação", não foi declarada, em 2006, a propriedade
de imóveis na região do Itaim
Bibi, bairro nobre de SP.
A omissão do imóvel, disse
Temer, teria levado à conclusão de que seu patrimônio
evoluiu. Para ele, o crescimento foi "de 5%".
Na declaração entregue
neste ano ao TSE, Temer afirmou possuir R$ 2,2 milhões
relativos a 4% dos "direitos
de aquisição sobre imóveis à
rua Aspácia [na verdade, rua
Aspásia], rua Iguatemi e rua
Tabapuã", na cidade de São
Paulo.
Tal imóvel não constou da
declaração de 2006, com a
qual ele registrou sua candidatura e se elegeu deputado.
Em casos semelhantes, o
Ministério Público tem visto
crime eleitoral, previsto no
artigo 350 do Código Eleitoral
("omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar,
ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita,
para fins eleitorais").
A Justiça Eleitoral, contudo, tem sido tolerante, sob
alegação de que as omissões
não têm impacto na disputa
eleitoral. O imóvel de R$ 2,2
milhões continuava, até a última quinta-feira, fora da declaração de 2006, o que indica que Temer não retificou a
informação até aquela data.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Outro lado: Equívoco é do "sujeito que digitou a declaração", justifica deputado Índice
|