São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2010

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PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010

Papa pede ação no Brasil contra aborto

Bento 16 diz a membros da CNBB que padres têm dever de intervir na campanha política para condenar prática

Na mensagem, pontífice afirma que em defesa da vida os sacerdotes não devem temer "oposição" nem "impopularidade"

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

O papa Bento 16 disse ontem em Roma que é dever dos bispos brasileiros intervir na campanha política para condenar o aborto. O pontífice afirmou ainda que descriminalização desse procedimento representa uma traição aos ideais democráticos.
Falando a bispos do Maranhão que lhe faziam a visita quinquenal em que relatam os problemas da diocese, o papa foi direto: "Quando, porém, os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas".
Bento 16 qualificou o aborto e a eutanásia de ações "intrinsecamente más", cuja descriminalização compromete a democracia.
"Caros irmãos no episcopado, ao defender a vida não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambiguidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo", diz a mensagem do papa aos brasileiros.
Nenhuma das posições defendidas por Bento 16 é nova. Elas estão consubstanciadas numa série de encíclicas, notadamente "Evangelium vitae" e "Gaudium et spes".
Mas, ao recapitular esses pontos numa mensagem direta a bispos brasileiros a três dias de um segundo turno fortemente marcado pela discussão do aborto, o pontífice dá a seu discurso um conteúdo político que, pelo menos em relação ao Brasil, é inédito -na Itália, interferências do papa já são uma tradição.
O aborto virou tema central da campanha na virada entre o primeiro e o segundo turno. Dilma Rousseff (PT) foi criticada em panfletos da Igreja Católica por ter defendido, no passado, a descriminalização do aborto.
Ela passou vários dias repetindo que é "a favor da vida" e fez uma carta a religiosos se comprometendo a não mudar a lei sobre o tema.
Ontem, José Serra elogiou o papa e disse que ele tem "pleno direito de emitir as suas diretrizes e orientações para os católicos do mundo". Dilma disse que a mensagem não afeta sua candidatura e que a posição de Bento 16 "tem de ser respeitada".
Em seu discurso, Ratzinger abordou outros dois temas presentes nas disputas culturais entre religiosos e secularistas: o ensino religioso nas escolas oficiais e a presença de crucifixos em espaços públicos como tribunais.


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