São Paulo, sábado, 31 de julho de 2010 |
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Político sem teto
Empresário que faliu no Plano Collor virou morador de rua em Curitiba e agora pede votos para deputado estadual com uma motoneta comprada com o dinheiro que ganhou com coleta de lixo
DIMITRI DO VALLE DE CURITIBA Empresário falido com o confisco no governo Collor, José de Camargo, 62, que mora na rua há 11 anos, decidiu candidatar-se a deputado estadual pelo PRTB no Paraná. Com uma motoneta, comprada com o dinheiro que arrecadou catando latinhas e outros materiais recicláveis e coberta de adesivos do partido (ele ainda não foi buscar os próprios santinhos), o sem-teto diz que costuma pedir votos na rua, sozinho. Se eleito, o candidato quer criar uma comunidade de recuperação de dependentes químicos na região de Curitiba e atuar como representante dos catadores de lixo contra "o lobby das grandes empresas" do setor de limpeza. "Quero ser deputado para acabar com o monopólio do lixo neste país e, anote aí, que em 2014 serei candidato à Presidência", afirma. Zezé de Camargo -como é conhecido num galpão abandonado na periferia de Curitiba, onde mora sob a permissão do proprietário do imóvel- conta que foi parar na rua após problemas financeiros graves seguidos de uma crise de depressão e cinco tentativas de suicídio. Pai de quatro filhos do casamento e outros quatro frutos de "produção independente", Zezé afirma que é dependente de álcool desde os sete anos de idade. Nos dias em que trabalha até 18 horas como catador, Zezé consegue fazer R$ 100. Quando não vai para o "mocó", local de abrigo dos catadores, ele pode ser encontrado numa velha camionete que também é improvisada como casa. Os problemas pessoais e sua história nas ruas começaram quando ele, dono de uma factoring (empresa que presta financiamentos e empréstimos), sofreu calotes devido ao Plano Collor. "Vou continuar minha vida de morador de rua", diz ele, caso seja eleito. "A rua é minha vida. Aqui me sinto útil ajudando as pessoas", afirma Camargo, que ganhou o apelido de Zezé devido à semelhança, quando criança, com a atriz e comediante Zezé Macedo. "Na época, não gostava. Mas é óbvio que agora é bom, por causa da associação com Zezé Di Camargo e Luciano", afirma, numa referência à dupla sertaneja. Zezé diz que, antes mesmo de ir morar na rua, enfrentou problemas graves. Conta que em 1969 se envolveu num tiroteio em uma boate de prostituição e que em 1977 atropelou um pedestre, que acabou morrendo. "Mas há muito tempo eu sou um cara de paz." Texto Anterior: Entrevista - Fabio Feldmann: "Com vinda de Marina, mudamos de patamar" Próximo Texto: Frase Índice |
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