São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2010

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MAURO PAULINO

De Collor a Dilma


Pesquisas feitas para Dilma buscam, como as de Collor, prever comportamentos


PESQUISAS DE opinião foram decisivas na eleição de Collor. Para a criação do caçador de marajás utilizaram-se, pela primeira vez, pesquisas engajadas para moldar uma candidatura à Presidência, no Brasil. Foi também a primeira eleição em que a mídia contratou pesquisas com abrangência nacional para acompanhar as reações dos eleitores.
São pesquisas de naturezas diferentes, com métodos e objetivos diversos. Umas ajudam a fazer a história e outras colaboram para contá-la. Ambas assumem papéis relevantes e legítimos e, se feitas por uma mesma empresa, há de haver cuidado para que o engajamento não contamine análises e resultados tornados públicos.
A partir da interpretação dos resultados de uma pesquisa nacional, Collor concluiu que o "imaginário popular" abrigaria a sua personagem. As inserções na TV, exibidas entre março e maio de 1989, elaboradas no tom exato definido pelos pesquisadores, fizeram-no disparar de 17% para 42%, como apuraram pesquisas públicas do Datafolha. Considerando o eleitorado atual, equivaleria a 1 milhão de brasileiros convertidos a cada dia. Ou 15 Mineirões lotados por dia.
Diversos pleitos apresentaram movimentos parecidos. Deve ser estimulante para pesquisadores engajados acompanhar os efeitos imediatos de suas ações, medindo-os em milhões. Neste ano, com o desejo de continuidade, a cada exposição de Dilma na TV tantos milhões foram informados de sua ligação com Lula e novos patamares de intenção de voto foram sendo atingidos a cada aparição em massa da dupla.
As pesquisas feitas hoje para Dilma são semelhantes às da campanha de Collor. Por meio de técnicas específicas buscam a predição de comportamentos. Basicamente, fornecem apenas aos entrevistados de sua amostra informações que chegarão mais adiante a grande parte dos eleitores. Testam assim eficácia de estratégias e potencial de crescimento de seu contratante.
Em pesquisas tornadas públicas pode-se optar por alguns desses métodos preditivos, típicos das pesquisas engajadas. É uma decisão excitante do ponto de vista jornalístico. Para que medir o presente se o futuro pode ser revelado? Fora o risco de não concretização, inerente a qualquer predição, os mais atentos podem se perguntar se o método seria aplicado, nas pesquisas feitas para divulgação, caso não favorecesse o candidato certo.
Ao informar apenas aos entrevistados, antes da declaração do voto, que, por exemplo, Dilma é do PT, ou Dilma é do Lula, uma pesquisa pode mesmo antecipar o que vai ocorrer depois que muitos souberem disto. Mas, para que isso se concretize em intenção de voto, as informações devem chegar para muitos, da mesma forma que chegou aos entrevistados. Por isso, o Datafolha não dá essas informações aos seus entrevistados.
Dilma e Serra chegaram empatados no início de julho. Em meados de agosto, após o início da cobertura intensiva das eleições pelos telejornais, Dilma abriu vantagem de oito pontos. Após o início da campanha, ela cresceu mais seis pontos, e continua em ascensão. É um movimento até que brando, se comparado ao de 1989.
Na Folha, cada um desses movimentos foi explicado tecnicamente, a partir de fotografias de cada momento desta eleição. O que explicaria a vantagem de Dilma sobre Serra já no início de junho? Misturar pesquisas preditivas com outras, em médias e projeções acadêmicas, quando se conta com poucos institutos, pode comprometer o registro histórico da eleição. Melhor optar por umas ou por outras.
Há quem proponha uma guerra de pesquisas. Melhor não contarem com o Datafolha. Certa vez, o evolucionista Richard Dawkins, convidado a debater com criacionista, afirmou: "Não vou provê-los com o oxigênio da credibilidade".

MAURO PAULINO é diretor-geral do Datafolha


AMANHÃ EM PODER:
Marco Antonio Villa




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