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Ao ataque no segundo round
Ida de Serra ao segundo turno despertou a campanha tucana, que, antes incrédula , montou nova estratégia, reuniu aliados e adotou tom incisivo contra o governo
CATIA SEABRA
BRENO COSTA
DE SÃO PAULO
Em 3 de outubro, o candidato do PSDB à Presidência,
José Serra, dormiu no primeiro e acordou no segundo turno. Como ele mesmo conta a
amigos, dormiu às 16h no dia
da eleição. Ao acordar, ouviu
pela TV que ainda estava na
disputa.
O resultado exigiu que o
até então incrédulo núcleo
da campanha despertasse
para a montagem de nova estratégia. O medo de Serra era
uma reedição da disputa de
2006, quando Geraldo Alckmin, então candidato, teve
menos votos no segundo do
que no primeiro turno.
Reunido com aliados, Serra pediu que não fosse interrompido o ritmo da campanha, incluindo participação
mais ativa de governadores e
senadores eleitos, sobretudo
Aécio Neves (MG).
Acompanhando a evolução dos números das pesquisas, Serra foi o primeiro a pedir que fosse abortada a estratégia de enviar líderes tucanos a outros Estados.
A ideia do tour, considerada um "equívoco" por expoentes tucanos, foi exemplo
de uma das mudanças que o
segundo turno trouxe à campanha. "Serra passou a ouvir
mais, ficou mais aberto", diz
o senador Sérgio Guerra (PE),
coordenador da campanha e
presidente do PSDB.
Nas reuniões, escutou
apelos para ampliação do comando da campanha e para
que fizesse gestos mais generosos a correligionários.
Concentrados em SP, líderes aliados de todo o país
passaram a se reunir pelo
menos uma vez por semana.
A condução da campanha
continuou, porém, nas mãos
do coordenador de comunicação, Luiz Gonzalez.
Serra também pediu que
fosse mantido o volume de
material produzido no primeiro turno.
ONDAS ELEITORAIS
O segundo turno de Serra
começou embalado por duas
ondas: a verde, com a maior
parte dos 20 milhões de votos
de Marina Silva, e a religiosa,
com o acirramento do debate
sobre temas como o aborto.
"A agenda dos valores é
fundamental. Sempre há
uma preocupação em torno
dos valores", diz o deputado
federal e presidente do DEM,
Rodrigo Maia. "Essa eleição
evidenciou que o PSDB é um
partido de centro-direita."
Marina não aderiu à candidatura serrista. Sua ausência
foi atenuada, em parte, pelo
apoio de nomes fortes do PV,
como Fernando Gabeira, derrotado na disputa ao governo
do Rio. Mas não era Marina.
O movimento de Serra foi
interrompido, porém, pela
introdução do nome de Paulo Vieira Souza, o Paulo Preto, na agenda de debates.
Embora Paulo Preto seja ligado ao senador eleito Aloysio Nunes Ferreira, o ônus
político foi debitado na conta
de Serra. Para tucanos, a exploração de acusações contra ele esvaziou o discurso
ético de Serra na campanha.
Aliados do candidato se
queixaram da omissão de
Aloysio Nunes, que deixou o
caso na conta de Serra.
Outro capítulo que mereceu discussão interna foi o
comportamento de Serra
diante da confusão no bairro
de Campo Grande, no Rio. A
postura passiva foi encarada
como artificial pelo tucanato.
Para Aloysio Nunes, a chegada ao segundo turno provocou um "efeito centrípeta"
nos aliados. Hoje avaliações
que eram feitas com mais reserva no primeiro turno surgem abertamente. "Muitos
companheiros nossos tiveram receio de expor sua vinculação política com o Serra,
com medo de perderem suas
eleições", diz Aloysio.
Uma das maiores cobranças de aliados no primeiro
turno, a mudança de tom nos
programas de TV apareceu. A
despeito de poupar Lula, os
ataques ao governo federal
foram mais incisivos.
OTIMISMO
Serra foi, desde o início, e
apesar de ter demorado a
anunciar a condição de candidato, quem mais acreditou
em suas próprias possibilidades de sair vitorioso hoje.
No primeiro turno, diante
da perspectiva de derrota
apontada no dia da eleição
por diferentes institutos de
pesquisa, era a ele que seria
creditado o ônus do fracasso,
por ter chamado para si a
condução da campanha.
Agora, a avaliação geral é
que o maior mérito político
em caso de vitória de Serra terá sido do próprio candidato.
A vitória será creditada à
sua "determinação", segundo Guerra, seu "talento pessoal", para Maia, e sua "energia", para Aloysio Nunes.
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