São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2010

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Ao ataque no segundo round

Ida de Serra ao segundo turno despertou a campanha tucana, que, antes incrédula , montou nova estratégia, reuniu aliados e adotou tom incisivo contra o governo

CATIA SEABRA
BRENO COSTA

DE SÃO PAULO

Em 3 de outubro, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, dormiu no primeiro e acordou no segundo turno. Como ele mesmo conta a amigos, dormiu às 16h no dia da eleição. Ao acordar, ouviu pela TV que ainda estava na disputa.
O resultado exigiu que o até então incrédulo núcleo da campanha despertasse para a montagem de nova estratégia. O medo de Serra era uma reedição da disputa de 2006, quando Geraldo Alckmin, então candidato, teve menos votos no segundo do que no primeiro turno.
Reunido com aliados, Serra pediu que não fosse interrompido o ritmo da campanha, incluindo participação mais ativa de governadores e senadores eleitos, sobretudo Aécio Neves (MG).
Acompanhando a evolução dos números das pesquisas, Serra foi o primeiro a pedir que fosse abortada a estratégia de enviar líderes tucanos a outros Estados.
A ideia do tour, considerada um "equívoco" por expoentes tucanos, foi exemplo de uma das mudanças que o segundo turno trouxe à campanha. "Serra passou a ouvir mais, ficou mais aberto", diz o senador Sérgio Guerra (PE), coordenador da campanha e presidente do PSDB.
Nas reuniões, escutou apelos para ampliação do comando da campanha e para que fizesse gestos mais generosos a correligionários.
Concentrados em SP, líderes aliados de todo o país passaram a se reunir pelo menos uma vez por semana. A condução da campanha continuou, porém, nas mãos do coordenador de comunicação, Luiz Gonzalez.
Serra também pediu que fosse mantido o volume de material produzido no primeiro turno.

ONDAS ELEITORAIS
O segundo turno de Serra começou embalado por duas ondas: a verde, com a maior parte dos 20 milhões de votos de Marina Silva, e a religiosa, com o acirramento do debate sobre temas como o aborto.
"A agenda dos valores é fundamental. Sempre há uma preocupação em torno dos valores", diz o deputado federal e presidente do DEM, Rodrigo Maia. "Essa eleição evidenciou que o PSDB é um partido de centro-direita."
Marina não aderiu à candidatura serrista. Sua ausência foi atenuada, em parte, pelo apoio de nomes fortes do PV, como Fernando Gabeira, derrotado na disputa ao governo do Rio. Mas não era Marina.
O movimento de Serra foi interrompido, porém, pela introdução do nome de Paulo Vieira Souza, o Paulo Preto, na agenda de debates.
Embora Paulo Preto seja ligado ao senador eleito Aloysio Nunes Ferreira, o ônus político foi debitado na conta de Serra. Para tucanos, a exploração de acusações contra ele esvaziou o discurso ético de Serra na campanha.
Aliados do candidato se queixaram da omissão de Aloysio Nunes, que deixou o caso na conta de Serra.
Outro capítulo que mereceu discussão interna foi o comportamento de Serra diante da confusão no bairro de Campo Grande, no Rio. A postura passiva foi encarada como artificial pelo tucanato.
Para Aloysio Nunes, a chegada ao segundo turno provocou um "efeito centrípeta" nos aliados. Hoje avaliações que eram feitas com mais reserva no primeiro turno surgem abertamente. "Muitos companheiros nossos tiveram receio de expor sua vinculação política com o Serra, com medo de perderem suas eleições", diz Aloysio.
Uma das maiores cobranças de aliados no primeiro turno, a mudança de tom nos programas de TV apareceu. A despeito de poupar Lula, os ataques ao governo federal foram mais incisivos.

OTIMISMO
Serra foi, desde o início, e apesar de ter demorado a anunciar a condição de candidato, quem mais acreditou em suas próprias possibilidades de sair vitorioso hoje.
No primeiro turno, diante da perspectiva de derrota apontada no dia da eleição por diferentes institutos de pesquisa, era a ele que seria creditado o ônus do fracasso, por ter chamado para si a condução da campanha.
Agora, a avaliação geral é que o maior mérito político em caso de vitória de Serra terá sido do próprio candidato.
A vitória será creditada à sua "determinação", segundo Guerra, seu "talento pessoal", para Maia, e sua "energia", para Aloysio Nunes.


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