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A São Bernardo de Lula
A dois meses do fim do mandato do presidente, a cidade que ele adotou discute como será a volta do filho ilustre
FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO
Estimulados pela proximidade do fim do mandato e pela declaração do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva de
que "a partir do dia 1º de janeiro à tarde" estará "morando, residindo e fazendo política em São Bernardo do
Campo", amigos e habitantes já discutem como será a
volta do filho ilustre à cidade
que ele adotou.
Se é fantasioso supor que
Lula reviverá programas da
época em que não era uma
celebridade política, também parece certo que, ao virar ex-presidente e fazer de
São Bernardo sua base, ele ficará ali bem mais tempo do
que nas visitas esporádicas
de fins de semana do seu período no Palácio do Planalto.
Isso é o bastante para ouriçar a peãozada -o universo
do sindicalismo em torno do
qual Lula construiu sua relação afetiva com o município.
"Ele disse que quer começar a visitar os amigos no Alvarenga e ir até o Parque São
Bernardo [extremos da cidade]", afirma Juno Rodrigues
Silva, o Gijo, 67, amigo de Lula desde 1969.
"Ele desce na Rolls-Royce
[fábrica em cujo heliponto
Lula costuma desembarcar],
e a companheirada vai recepcioná-lo na [via] Anchieta."
Ex-metalúrgico que, como
muitos da velha turma, ainda
trata Lula pelo apelido de
"Baiano", Gijo tem um restaurante que serve uma chuleta apreciada pelo presidente -e leva a carne até o amigo
quando ele está na cidade.
Agora, é um dos raros a
crer que Lula voltará a frequentar os cantos de outrora.
"Assim que voltar, com dois
dias ele passa aqui [no restaurante]. A mesa dele é
aquela, ó", aponta.
Advogado do Sindicato
dos Metalúrgicos do ABC de
71 a 86 e hoje presidente da
empresa de transporte urbano da cidade, Odilon Soares,
73, nutre esperança no reencontro. "Já que durante os
dois mandatos não tivemos
chance de abraçá-lo, esperamos que na volta dê para tomar uma pinguinha."
Genival Inácio da Silva, o
Vavá, um dos três irmãos de
Lula que moram em São Bernardo, aposta que ele passará mais tempo dando palestras pelo mundo e que uma
eventual "reintegração" será
gradual. "Ele não tem como
frequentar os lugares. Talvez
depois de um ano..."
O deputado federal Vicentinho (PT), outro ex-metalúrgico do círculo de Lula, arrisca que, após descansar, o
amigo "vai de vez em quando
visitar uma fábrica". "E terá
de ter paciência, porque vamos pedir muito conselho."
OUTRA CIDADE
A São Bernardo de hoje é
muito diferente daquela do
fim dos anos 1970, quando,
ao liderar as greves dos metalúrgicos, Lula ganhou visibilidade nacional.
O estádio da Vila Euclides,
hoje 1º de Maio, local das mega-assembleias, está sendo
modernizado. A fábrica da
Villares, onde ele trabalhava
na época, virou supermercado. O bar do Zelão, perto do
sindicato, naquele tempo um
"pé-sujo" em que a peãozada
ia beber, ganhou filial maior
e mais sofisticada.
Mas ainda há, em São Bernardo, muito do passado recente de um Lula menos blindado pelo poder.
Caso do sítio Los Fubangos, comprado pelo presidente em 1993 e onde ele gostava de descansar, pescar
(está à beira da represa Billings) e cozinhar coelho.
De acordo com o prefeito
de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), amigo de Lula e dono de um sítio vizinho ao dele, o presidente pretende reformar o Los Fubangos para
voltar a frequentá-lo.
"Sei do desejo dele de
construir uma estrutura lá. É
certo que lá vamos tomar uns
guaranás", brinca Marinho.
Hoje o local está semiabandonado. A família quase
não visita, e um funcionário
aparece algumas vezes por
semana. A reportagem esteve lá na quarta e na quinta e
não encontrou ninguém.
Vavá diz que Lula adora o
sítio e também aposta que o
irmão voltará a frequentá-lo.
DONO DA CIDADE
Já é sabido que Lula deverá ter um instituto com seu
nome em São Paulo. Mas, segundo amigos, continuará
morando em São Bernardo,
numa cobertura de 186 m2.
É um dos quatro imóveis
que tem na cidade, conforme
sua última declaração de
bens à Justiça eleitoral.
Os outros são o sítio e dois
apartamentos em outro prédio residencial -um está alugado e outro é ocupado pela
ex-mulher do enteado.
Mas basta circular umas
horas por São Bernardo para
ouvir incontáveis histórias
sobre imóveis que Lula ou
seus filhos adquiriram nos
últimos anos. A maioria dos
boatos envolve helipontos,
em coberturas ou mansões.
Questionada pela reportagem se Lula comprou, diretamente ou por meio de parentes, imóveis na cidade durante os seus mandatos, a Presidência não se manifestou.
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