São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2010

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A São Bernardo de Lula

A dois meses do fim do mandato do presidente, a cidade que ele adotou discute como será a volta do filho ilustre

FABIO VICTOR
DE SÃO PAULO

Estimulados pela proximidade do fim do mandato e pela declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que "a partir do dia 1º de janeiro à tarde" estará "morando, residindo e fazendo política em São Bernardo do Campo", amigos e habitantes já discutem como será a volta do filho ilustre à cidade que ele adotou.
Se é fantasioso supor que Lula reviverá programas da época em que não era uma celebridade política, também parece certo que, ao virar ex-presidente e fazer de São Bernardo sua base, ele ficará ali bem mais tempo do que nas visitas esporádicas de fins de semana do seu período no Palácio do Planalto.
Isso é o bastante para ouriçar a peãozada -o universo do sindicalismo em torno do qual Lula construiu sua relação afetiva com o município.
"Ele disse que quer começar a visitar os amigos no Alvarenga e ir até o Parque São Bernardo [extremos da cidade]", afirma Juno Rodrigues Silva, o Gijo, 67, amigo de Lula desde 1969.
"Ele desce na Rolls-Royce [fábrica em cujo heliponto Lula costuma desembarcar], e a companheirada vai recepcioná-lo na [via] Anchieta."
Ex-metalúrgico que, como muitos da velha turma, ainda trata Lula pelo apelido de "Baiano", Gijo tem um restaurante que serve uma chuleta apreciada pelo presidente -e leva a carne até o amigo quando ele está na cidade.
Agora, é um dos raros a crer que Lula voltará a frequentar os cantos de outrora. "Assim que voltar, com dois dias ele passa aqui [no restaurante]. A mesa dele é aquela, ó", aponta.
Advogado do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC de 71 a 86 e hoje presidente da empresa de transporte urbano da cidade, Odilon Soares, 73, nutre esperança no reencontro. "Já que durante os dois mandatos não tivemos chance de abraçá-lo, esperamos que na volta dê para tomar uma pinguinha."
Genival Inácio da Silva, o Vavá, um dos três irmãos de Lula que moram em São Bernardo, aposta que ele passará mais tempo dando palestras pelo mundo e que uma eventual "reintegração" será gradual. "Ele não tem como frequentar os lugares. Talvez depois de um ano..."
O deputado federal Vicentinho (PT), outro ex-metalúrgico do círculo de Lula, arrisca que, após descansar, o amigo "vai de vez em quando visitar uma fábrica". "E terá de ter paciência, porque vamos pedir muito conselho."

OUTRA CIDADE
A São Bernardo de hoje é muito diferente daquela do fim dos anos 1970, quando, ao liderar as greves dos metalúrgicos, Lula ganhou visibilidade nacional.
O estádio da Vila Euclides, hoje 1º de Maio, local das mega-assembleias, está sendo modernizado. A fábrica da Villares, onde ele trabalhava na época, virou supermercado. O bar do Zelão, perto do sindicato, naquele tempo um "pé-sujo" em que a peãozada ia beber, ganhou filial maior e mais sofisticada.
Mas ainda há, em São Bernardo, muito do passado recente de um Lula menos blindado pelo poder.
Caso do sítio Los Fubangos, comprado pelo presidente em 1993 e onde ele gostava de descansar, pescar (está à beira da represa Billings) e cozinhar coelho.
De acordo com o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), amigo de Lula e dono de um sítio vizinho ao dele, o presidente pretende reformar o Los Fubangos para voltar a frequentá-lo.
"Sei do desejo dele de construir uma estrutura lá. É certo que lá vamos tomar uns guaranás", brinca Marinho.
Hoje o local está semiabandonado. A família quase não visita, e um funcionário aparece algumas vezes por semana. A reportagem esteve lá na quarta e na quinta e não encontrou ninguém.
Vavá diz que Lula adora o sítio e também aposta que o irmão voltará a frequentá-lo.

DONO DA CIDADE
Já é sabido que Lula deverá ter um instituto com seu nome em São Paulo. Mas, segundo amigos, continuará morando em São Bernardo, numa cobertura de 186 m2.
É um dos quatro imóveis que tem na cidade, conforme sua última declaração de bens à Justiça eleitoral.
Os outros são o sítio e dois apartamentos em outro prédio residencial -um está alugado e outro é ocupado pela ex-mulher do enteado.
Mas basta circular umas horas por São Bernardo para ouvir incontáveis histórias sobre imóveis que Lula ou seus filhos adquiriram nos últimos anos. A maioria dos boatos envolve helipontos, em coberturas ou mansões.
Questionada pela reportagem se Lula comprou, diretamente ou por meio de parentes, imóveis na cidade durante os seus mandatos, a Presidência não se manifestou.


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