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São Paulo, sábado, 10 de maio de 2003

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Histórias da medicina


Três Epidemias - Lições do Passado
Rachel Lewinsohn
Ed. Unicamp (Tel. 0/xx/19/3788-7728).
324 págs., R$ 45,00


Para que serve a história da medicina? Poderíamos sustentar que o papel das investigações sobre o desenvolvimento da medicina é igual ao dos demais estudos históricos. Lewinsohn pensa diferente. Médica e cientista, após observar os homens e as suas doenças por muitos anos, dá a sua história um propósito bem definido: "A história da medicina pode ser de inestimável valor: Ensinando-nos a "ler" o passado, ela pode nos ajudar a evitar os seus erros para, mais alertas, podermos enfrentar as dificuldades do presente". A especialista em doenças tropicais e professora de história da medicina apresenta três estudos: sobre a peste negra (século 14), a cólera (século 19) e a descoberta da doença de Chagas (século 20). Sua abordagem multidisciplinar produz uma narrativa em que elementos da história das doenças, da epidemiologia e de seus aspectos socioculturais, além da prática médica, são tecidos de uma tal maneira que nos leva à reflexão de como erradicá-las. Assim, ela escreve uma história da medicina voltada para a prevenção e a vigilância, tornando-a um instrumento a mais na luta contra os flagelos da humanidade.


Oswaldo Cruz & Carlos Chagas. O Nascimento da Ciência no Brasil
Moacyr Scliar
Odysseus (Tel. 0/xx/11/3816-0835)
160 págs., R$ 20,00


Este volume da coleção "Imortais da Ciência" é dedicado aos cientistas brasileiros Cruz e Chagas: o primeiro, mundialmente famoso pela atuação na área da epidemiologia e da saúde pública, num Brasil castigado pelas epidemias da peste bubônica, da varíola, da febre amarela e da cólera; o segundo, pela descoberta e identificação do agente causador e do mecanismo de transmissão da chamada "doença de Chagas". Herdeiro legítimo da tradição do "medicus litteratus", Moacyr Scliar é o responsável pela apresentação de duas saborosas e interessantes biografias, que, embora sucintas, são recheadas de observações históricas e psicológicas que promovem a curiosidade necessária para aqueles que desejam se aprofundar no assunto. A primeira seção traz uma pequena história da medicina bacteriológica. Ao final do volume, Amílcar Baiardi apresenta um panorama histórico-documental da atividade científica no Brasil desde os seus primórdios.


As Dez Maiores Descobertas da Medicina
Meyer Friedman e Gerald W. Friedland
Tradução: José Rubens Siqueira
Companhia das Letras (Tel. 0/xx/11/3707-3500)
368 págs., R$ 38,50


Confesso que a leitura deste livro foi uma surpresa. Acostumada a desconfiar da fórmula "os dez mais", uma vez que os critérios de escolha são em parte subjetivos (fato inevitável) ou orientados por uma visão de ciência ingênua e discutível e, ainda, porque pecam pelo caráter sintético, esperava deste volume uma apresentação superficial e esquematizada. Felizmente me enganei. Conscientes de que apontar o responsável pela descoberta é tarefa das mais difíceis em história da ciência, os autores, médicos com vasta experiência clínica e de pesquisa, relatam para cada caso os precursores, além de descrever suas consequências científicas e clínicas. Dotado de clareza e simplicidade excepcionais (mesmo nos casos mais técnicos), descrevem os detalhes internos de cada descoberta, recheando-as com observações curiosas e biográficas. Apenas uma ressalva: embora tenham procedido a uma investigação empírica para sua seleção, por que os autores ignoraram as contribuições anteriores a Vesalius?


A Ciência Particular de Louis Pasteur
Gerald L. Geison
Tradução: Vera Ribeiro
Contraponto/Fiocruz (Tel. 0/xx/21/2544-0206)
464 págs., R$ 46,00


A partir da análise dos cadernos pessoais de notas de laboratório de Pasteur, guardados por quase um século, Geison faz uma revisão histórica do chamado "mito pasteuriano". Seu tema central é que as crenças e o "modus operandi" científicos de Pasteur foram "profundamente moldados, em algumas ocasiões, por seus interesses pessoais, inclusive seus instintos políticos, filosóficos e religiosos". Geison põe em prática uma espécie de "história privada da ciência", na qual anotações de laboratório (um "gênero literário especialíssimo") são utilizadas para detectar a fraude científica e a construção retórica do conhecimento científico, para demonstrar a maneira como os dados brutos se transformam em "resultados publicados". Geison conclui que Pasteur teria enganado o público e a comunidade científica em pelo menos três episódios de sua carreira, justamente aqueles que o consagraram como o maior cientista da França: os experimentos com vítimas de hidrofobia; a demonstração pública da vacina contra o carbúnculo de carneiros; e a primeira aplicação da vacina anti-rábica no jovem Joseph Meister. A análise não "derruba" o mito pasteuriano por inteiro (apenas arranha um pouco o seu verniz), pois desde Bacon aprendemos a levar em conta o lado humano da ciência.

REGINA ANDRÉ REBOLLO

é formada em ciências sociais, doutora em filosofia e pesquisadora de pós-doutorado na USP.


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