São Paulo, sábado, 13 de julho de 2002 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Raízes e desafios
Economia Colonial no Brasil
nos Séculos 16 e 17
Edição inédita em português da tese de doutorado
defendida pelo autor na Universidade de Paris/Sorbonne (França), em 1948. As análises aqui esboçadas
são anteriores ao seu ingresso como pesquisador na
"Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe" (CEPAL), mas já prenunciavam as interpretações que ganhariam músculos em seu livro-chave,
"Formação Econômica do Brasil" (1959). Detendo-se nos séculos 16 e 17, Furtado definiu os contornos
do Brasil colonial, que não teria sido mais do que
uma grande empresa produtora de bens tropicais
destinados a alimentar o comércio português. Essa
condição traria consequências nefastas ao Brasil,
uma terra cujos interesses não contavam, pois a metrópole se apropriara de tudo, até mesmo do centro
de gravidade da sua economia. Realçando a carga de
passividade que marcou o processo de formação do
Brasil, Furtado ajudou a empurrar a economia e as
ciências sociais latino-americanas para além das
suas próprias fronteiras.
Diversidade é palavra-chave neste pequeno -mas
saboroso- livro. Estratégias diferenciadas, conta-nos o atual secretário-geral da Unctad (Conferência
das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), produziram histórias recentes de sucessos
em várias economias emergentes. Seu alvo: a desmistificação da idéia de que existe apenas um único e
seguro caminho para o desenvolvimento de povos e
países. Expondo e debatendo experiências vividas
pela China, Índia, Taiwan, Japão, Coréia e Tailândia,
dentre outras, o livro procura destacar os choques
entre o receituário padrão que emana do mundo das
finanças e a história, as instituições e a cultura de cada país. Perder de vista as próprias raízes nem sempre é recomendável, realça o autor, defendendo a necessidade de um projeto nacional para o reencontro
dos países consigo mesmos e com o desenvolvimento. Escrito em língua franca e elegante, este livro é alimento para quem procura decifrar alguns enigmas
da atual globalização e os tropeções recorrentes que
têm marcado a história dos países que ensaiam se
desenvolver.
Este livro foi pensado como uma reunião de breves
artigos sobre os anos 90, escritos originalmente para
um site na internet. Sua leitura, porém, revela que
um previsível álbum de fotos acabou cedendo lugar
a uma espécie de documentário crítico sobre a década passada. O livro tem ritmo, e a crítica, vigor.
Como no desmanche das figuras mitológicas construídas em torno da idéia de declínio irreversível de
Estados e nações. Do fim da história à utopia global,
do Consenso de Washington às reformas neoliberais
do governo brasileiro, o livro acompanha o curso errático das principais orientações da economia e da
política mundial que atingiram em cheio a América
Latina. Conhecido por sua acidez e contundência, o
autor procurou debater as principais idéias que marcaram a vã tentativa de sustentar uma trajetória de
desenvolvimento no Brasil e no Continente na década passada.
Miniusina de ceticismo diante das recentes experiências de economia política que prometeram
-mas não cumpriram- o desenvolvimento do
Brasil, este livro condensa provocações úteis para
aqueles que desejam refletir sobre projetos alternativos para o país. A partir da "crise sistêmica" em
que as orientações liberais empurraram a economia
-denominada de "africanização"-, o autor se
movimenta entre três desafios brasileiros: insistir na
atual trajetória medíocre e viver em estado contínuo
de turbulência; mergulhar numa crise econômica,
social e política profunda, que agravaria ainda mais
as desigualdades no país; romper o casamento nocivo entre globalização e neoliberalismo, permitindo
que a exclusão social seja amenizada. Pena que esta
última alternativa, um tênue facho de otimismo neste livro, tenha merecido apenas alguns acenos e suscitado tímidas novidades. é professor de sociologia na USP. Texto Anterior: Enredos africanos Próximo Texto: Compositor dialético Índice |
|