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Igreja já tem 150 intérpretes para missa em Libras

ELIDA OLIVEIRA
DE RIBEIRÃO PRETO

Eles chegam sorrateiros, sentam-se à frente do altar e, quando começa a missa, mexem mãos e braços em gestos coordenados. São surdos que, com a ajuda de voluntários intérpretes em Libras (Língua Brasileira de Sinais), podem agora acompanhar a celebração ao vivo de cultos na Igreja Católica.

Para dizer "santo", eles fazem um círculo sobre a cabeça, como uma auréola. "Ressurreição" é um boneco feito com os dedos sobre a palma da mão, que é elevado.

O trabalho dos intérpretes, chamados de missionários, faz parte da Pastoral dos Surdos no Brasil -são cerca de 150 intérpretes na igreja, segundo o secretário nacional da área, César Bacchim.

Em Ribeirão Preto, há três deles atuando na Catedral Metropolitana da cidade.

O número está aquém do ideal. "Há escassez de intérpretes e desconhecimento técnico da língua" disse Jurandir Dias Júnior, coordenador nacional dos intérpretes em Libras da Pastoral.

O trabalho integra os surdos à comunidade ouvinte e os coloca em contato com a palavra de Deus -muitos não são alfabetizados em português e não têm acesso à leitura dos textos.

'TRADUÇÃO DA FÉ'

"O intérprete tem que conhecer a língua e ser um católico praticante. É uma tradução de fé", disse Dias.

Em São Paulo, três igrejas são referência em missas para surdos. Elas são a capela Nossa Senhora do Calvário, a igreja São Francisco de Assis e a igreja Nossa Senhora Aparecida, em Moema (zona sul), disse a irmã Marta Maria Barbosa, coordenadora do Instituto Santa Terezinha (pioneiro com surdos).

Em Ribeirão Preto, os três intérpretes fazem o trabalho há sete meses numa das missas de domingo. Sem curso específico, tiveram que estudar para retransmitir os símbolos religiosos.

"Queria compartilhar [minha crença] com quem não pode ouvir", disse Flaidiane dos Santos, 36, pedagoga, uma das intérpretes.

"Percebemos uma maior presença de surdos na missa", disse o padre Francisco Moussa, da Catedral São Sebastião em Ribeirão.

Para o padre Chico, como é conhecido, aprender Libras já é um assunto delicado. Ele confessa: "Acho difícil".

"Enquanto não aprendo, as confissões são feitas por escrito ou com um intermediário que tenha o sigilo da confissão", disse.

Para quebrar a barreira da comunicação, seminários de Recife, Rio e Curitiba dão curso de formação em Libras para os seminaristas, disse Dias.

As aulas são extracurriculares. Segundo Bacchim, é mais fácil formar um jovem na língua de sinais do que um padre maduro. "A cada dez padres formados, dois trabalham com surdos."

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