Justiça 'interna' um a cada 18 h por drogas
Decisão, sem anuência do paciente, atente a pedido da família, Promotoria ou saúde pública de cidades da região
De janeiro a setembro deste ano, foram 371 internações em Franca, Ribeirão, São Carlos, Araraquara e Barretos
A cada 18 horas, a Justiça obriga a internação para um dependente químico em uma das cinco maiores cidades da região de Ribeirão Preto.
A medida ocorre sem o consentimento do paciente e pode ser solicitada por familiares ou pelo Ministério Público e saúde pública.
De janeiro a setembro deste ano, as decisões judiciais determinaram às prefeituras de Ribeirão, Franca, São Carlos, Araraquara e Barretos a internação de 371 pessoas.
Luis Antonio Damasceno, vice-presidente do Comad (Conselho Municipal sobre Álcool e Drogas) de Ribeirão Preto, disse que o grande número de determinações judiciais demonstram a falta de apoio às famílias.
"O uso de drogas é um problema de saúde pública, que tem uma estrutura precária", afirmou. "As famílias não têm a quem recorrer e os dependentes só são atendidos quando estão em crise, após decisão da Justiça."
A situação, segundo ele, é ainda pior para o atendimento a mulheres viciadas em drogas. Em Ribeirão, maior cidade da região, não há clínicas femininas credenciadas pelo programa Recomeço, do governo do Estado.
O desempregado Fernando César Rodrigues, 43, tenta há dois anos internar a filha de 21 anos. Ela usa crack desde os 15, segundo ele.
"A gente não tem condições de interná-la em clínica particular. A gente tenta vaga em algum lugar público, mas para mulher dizem que não tem", disse Rodrigues.
A jovem chegou a fazer acompanhamento no Caps-AD (Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas), mas desistiu. Fernandes disse que, por não receber muita atenção dos profissionais, saía do centro e usava drogas.
De acordo com a prefeitura, o Caps tem dois psiquiatras e um neurologista. No entanto, o tratamento no local não é "centrado na figura do médico", mas de uma equipe multidisciplinar, segundo informou, em nota.
Ainda de acordo com Damasceno, a cidade tem uma carência de locais de atendimento 24 horas, que só ocorre nos hospitais estaduais.
Sem vagas públicas, muitas vezes as famílias recorrem a clínicas particulares irregulares. Em agosto, a Folha mostrou que oito das 14 clínicas da cidade não tinham licença de funcionamento.
Além da falta de alvará, as clínicas fazem internação involuntária sem autorização judicial. "Sem ajuda do poder público, as famílias recorrem a clínicas irregulares", disse Damasceno.