Trabalho infantil persiste entre carentes
Em 2014, processos envolvendo exploração de menores em Ribeirão cresceram 6%; prática é comum no tráfico de drogas
Pesquisa da USP mostra que, de 168 crianças e adolescentes pobres, um terço abandonou a escola para trabalhar
Apesar do aumento de denúncias, o trabalho e a exploração infantil ainda são práticas comuns entre famílias carentes de Ribeirão Preto.
Ao mesmo tempo em que órgãos oficiais de coibição da prática veem crescer a delação, pesquisadores e autoridades afirmam que a situação persiste principalmente no tráfico de drogas.
Entre janeiro e outubro de 2014, o número de processos envolvendo trabalho infantil em Ribeirão Preto aumentou 6% na comparação com o mesmo período de 2013.
Segundo o Ministério Público do Trabalho, foram 68 inquéritos abertos em 2014, ante 64 do ano anterior. O ministério não divulgou quantos se referem a tráfico de drogas.
"Tratam-se de casos de abusos e exploração do trabalho de menores, geralmente oferecido à margem da lei. Na região é possível destacar os setores do comércio, panfletagem e trabalho rural", disse a procuradora Regina Duarte da Silva.
Ao mesmo tempo, uma pesquisa da USP mostrou que, em um recorte de 168 crianças e adolescentes carentes, um terço abandonou os estudos para trabalhar e auxiliar no sustento da casa.
A pesquisa foi realizada pela Escola de Enfermagem da USP Ribeirão entre setembro de 2011 e abril de 2013.
"Infelizmente, o trabalho infantil é muito comum na sociedade brasileira, que precisa, ao lado de governantes e famílias, ter maior conscientização da ilegalidade da atividade", afirmou a pesquisadora Renata Cristina da Penha Silveira.
O trabalho a partir dos 16 anos é considerado legal em atividades que não envolvam nenhum grau de insalubridade e não ofereçam risco à segurança e saúde da criança ou adolescente, de acordo com a pesquisadora.
No sistema de aprendizagem, o trabalho é permitido a partir dos 14 anos.
O trabalho infantil, na avaliação da pesquisadora, tira crianças e jovens do estudo, prejudica seu desenvolvimento e aprendizado e pode oferecer prejuízos como acidentes e lesões.
'AVIÃOZINHO'
Apreendido pela terceira vez no ano, Fabrício (nome fictício), 14, disse que só irá parar de vender drogas quando completar 18 anos.
Ele é "aviãozinho", gíria usada para denominar crianças e adolescentes que vendem ou transportam drogas.
Segundo o cabo da Polícia Militar Marcelo Rego, que fez a apreensão do adolescente, Fabrício chega a lucrar R$ 80 por dia no tráfico.
Ele foi expulso da escola depois de ter sido pego vendendo entorpecente dentro do prédio. Parou de estudar e não pretende voltar.
"Eles começam a vender porque querem ter coisas como relógios e roupas", disse a coordenadora de atenção ao adolescente em conflito, Ana Paula Paiva, da Delegacia da Infância e Juventude em Ribeirão Preto.