O patriarca de 600 anos

Ele "viu" os portugueses chegarem ao Brasil em 1500, testemunhou a ocupação do interior no século 18 e sobreviveu à expansão da agricultura -da cana, em especial.

Chama-se O Patriarca, tem 40 m de altura, 12 m de circunferência e estimados 600 anos de vida. O jequitibá-rosa em questão vive no parque estadual do Vassununga, em Santa Rita do Passa Quatro.

Lá, O Patriarca é o principal atrativo entre mais de 330 jequitibás de grande porte -e, provavelmente, é o responsável pela maior parte dos mil visitantes que foram ao parque em janeiro.

O Patriarca é considerado o maior e mais longevo dos jequitibás-rosa do Estado.

No parque, há uma trilha até a árvore -a caminhada, de cerca de 30 minutos, é repleta de outras árvores da mata atlântica do interior.

O silêncio da mata trouxe a introspecção para o consultor técnico de Joinville (SC) Luiz Osório da Silva, 50, em visita ao local. "A rusticidade da trilha e a imponência das árvores faz lembrar que você faz parte da natureza."

A MAIS ANTIGA

Tranquilo, imponente, silencioso. De pé desde meados de 1412, O Patriarca viu índios passarem por sua base enquanto na Europa reinava o espírito medieval.

O relato da presença de índios no local está documentado em um estudo do pesquisador Carlos Menarin.

Em depoimentos colhidos por ele, há indícios na área de fragmentos de quatro gerações de índios.

"Eram, possivelmente, de tribos diferentes. Os índios tinha hábitos nômades e essas quatro gerações representam um período de cerca de 200 anos", disse Heverton José Ribeiro, gestor do parque.

Só muito tempo depois, em meados do século 18, veio a ocupação do interior de São Paulo, disse José Marangoni Camargo, economista da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp de Marília.

De posto de parada de viajantes em direção a Minas Gerais, ao cultivo do café e, depois, da cana, a história do interior paulista se mistura à do parque estadual.

Lá, em 1924, foi criada a Companhia Usina do Vassununga, com 19,3 mil hectares.

Em meio ao café e à cana, O Patriarca reinou soberano. Quem o visita hoje pode ver a poucos metros de sua base um antigo lavador de café -uma minibarragem rústica.

Nos anos 60, dos 24 milhões de hectares de área do Estado, 20 milhões já eram ocupados, segundo Camargo.

Em 1969, a companhia faliu, de acordo com Menarin. Um ano depois, foi criado um parque estadual com os fragmentos de mata atlântica do interior e de cerrado que ainda estavam preservados.

O parque tem hoje seis fragmentos descontínuos -O Patriarca fica em um deles, na Trilha dos Jequitibás.

PRESERVAÇÃO

Não há estudos que indiquem a razão dessa mata ter sido mantida de pé mesmo com o avanço da agricultura.

Um dos palpites atribui o motivo à topografia da área: dos seis fragmentos, pelo menos três estão em terrenos em declive. Os demais estão em áreas inundáveis, próximas a rios, todos difíceis de plantar e colher, contou Ribeiro.

Outro palpite indica pretensões econômicas. Segundo Ribeiro, muitas propriedades mantinham a mata de pé como "reserva" de madeira, para poder construir casas no futuro ou queimar.

Há ainda o motivo mítico: a grande concentração de jequitibás teria impressionado os desbravadores, que mantiveram as árvores de pé.

A IDADE

É no cerne da árvore onde fica registrada a idade dela. Conforme cresce e forma o tronco, a madeira desenha anéis claros e escuros, ano a ano, dentro do caule.

No caso d'O Patriarca, a estimativa da idade não foi feita pelos anéis dele, mas de outro jequitibá vizinho.

De acordo com Ribeiro, foram observados os anéis dessa outra árvore e o tronco foi submetido a um estudo químico com carbono-14, o mesmo destinado a fósseis.

O resultado estimou a idade do jequitibá tombado em cerca de 400 anos. Como O Patriarca é maior e tem o tronco ainda mais espesso, calculam-se seus 600 anos.