Público vê temas repetidos em Batatais

	Fotos Edson Silva/Folhapress
	O carnavalesco Silvio Craco em meio a plumas da Acadêmicos do Samba, que levará ao sambódromo de Batatais o mesmo enredo exibido em 2002

Uma repete o enredo de dez anos atrás. Outra voltará a citar passagens de sua própria história no sambódromo. Embora seja reconhecido como o mais tradicional Carnaval de rua da região, o desfile das escolas de samba de Batatais tem se repetido nos temas e nos elementos apresentados ao público.

Hoje, ao entrar no sambódromo para a segunda noite de desfile da cidade, a Acadêmicos do Samba exibirá ao público "Luz e Trevas", enredo já apresentado pela agremiação em 2002.

Em seguida, a atual campeã, Castelo, levará para a passarela um enredo em que, em sua primeira parte, narrará o mito do Uirapuru, que deu à escola o primeiro de seus 17 títulos locais, em 1984. Completam o desfile hoje a Riachuelo e o bloco do Fantasma, a partir das 21h, com ingressos a R$ 7.

Outras três escolas desfilariam entre a noite de ontem e a madrugada de hoje.

Além das coincidências deste ano, o Carnaval de Batatais já teve semelhanças em enredos de anos anteriores.

Em 2010, por exemplo, a Unidos do Morro e a Unidos da Liberdade narraram histórias sobre negros. No caso da primeira, houve ainda outra coincidência com a Riachuelo, que levou tambores como tema ao sambódromo.

O centenário de nascimento de Candido Portinari, em 2003, foi outro a ser celebrado por duas escolas, Castelo e Acadêmicos do Samba.

Para o diretor cultural da Castelo, Luciano Dami, o fenômeno acontece não só nos enredos, mas em diversos elementos repetidos na avenida.

"Placas de acetato, por exemplo, são compradas por quase todas as escolas no mesmo lugar. A chance de uma alegoria com asas ser a mesma em várias escolas é grande."

Em seu desfile hoje, a Castelo ainda levará ao sambódromo um casal de mestre-sala e porta-bandeira para cada título conquistado, mais uma vez contando parte de sua trajetória de 42 anos.

Sobre os temas semelhantes, Dami disse que isso ocorre porque, por mais que os enredos sejam subjetivos ou aparentemente distantes dos foliões, os autores buscam deixá-lo mais próximos das pessoas, falando de elementos folclóricos e nacionais.

'DOIS LADOS'

Presidente da Uesb (União das Escolas de Samba Batataenses), Volnei José Barbosa, disse que a questão deve ser analisada por dois lados.

"Um desfile acaba tendo elementos semelhantes e pode não ser bom para quem assiste. Mas é como contar uma história, há várias versões sobre o mesmo assunto", disse.

Barbosa defende a renovação, embora acredite que seja "natural" a tendência das escolas em buscar temas ou elementos semelhantes em enredos que fizeram sucesso.

A pesquisadora de Carnaval e cultura negra Claudia Alexandre, que foi jurada do desfile de São Paulo por sete anos, afirmou não ver problema nas semelhanças, desde que as escolas se mantenham lineares durante os desfiles.

"A cultura não se perde, ao contrário: ela dá espaço à criatividade. O problema é quando o Carnaval se torna um produto meramente comercial."

A campeã do Carnaval de Batatais será conhecida na terça-feira. As três mais bem colocadas desfilarão no sábado.